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    O POVO VOTA E AINDA PAGA A CONTA DA ELEIÇÃO DE DILMA

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    Chegou a fatura

     

    O Congresso mais fragmentado de todos os que foram eleitos nos últimos anos começa a mostrar suas garras para a futura administração. São 10 partidos de peso político na base governista que começam a disputar espaços na futura administração Dilma Rousseff – PT (88), PMDB (79), PP (41), PR (41), PSB (34), PDT (28), PTB (21), PSC (17), PCdoB (15), PRB (8).

    Além do peso político dos aliados, a presidente eleita introduziu um novo critério para a formação do ministério: idealmente 30% dos escolhidos deverão ser mulheres, o que pode significar um esforço de valorização do gênero em um ambiente machista, mas que definitivamente não é critério de meritocracia para nenhum governo, mesmo o chefiado por uma mulher.

    Que, aliás, não foi eleita por ser mulher, embora Lula tenha posteriormente tentado justificar sua escolha, e desqualificar muitas críticas, pelo fato de Dilma ser mulher.

    Mas há também outros critérios duvidosos que começam a ser exibidos nessa disputa pelo poder político.

    O PTB é exemplar da falta de compromissos programáticos dos nossos partidos. Apoiou a candidatura oposicionista de José Serra até que ficasse mais ou menos claro que ela não chegaria a lugar nenhum.

    A partir daí, seu presidente Roberto Jefferson – aquele mesmo do mensalão – passou a criticar a organização da campanha de Serra e o próprio candidato – e tinha razão em algumas dessas críticas, como a de que Serra nunca reuniu seus alidos para definir a campanha – e liberou o PTB para aderir à candidatura governista.

    Vencida a eleição, o PTB apresenta sua fatura através do senador Morazildo Cavalcanti, de Roraima. Quer ficar com o Ministério do Turismo, que ganhará importância nos próximos anos com a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

    O interessante é que o senador Morazildo Cavalcanti foi dos mais combativos opositores do governo Lula nos últimos quatro anos, e era computado em todas as análises como integrante da ala oposicionista no Senado.

    Já o PT começou a mostrar a que veio, depois de eleger a maior bancada da Câmara, desalojando o PMDB: quer não apenas a presidência da Casa, mas pretende retomar para os seus alguns ministérios que foram perdendo no segundo governo Lula para que a aliança governista acomodasse os representantes de outros partidos.

    Além dos ministérios que já ocupa, o PT quer pelo menos um ou dois dos que cuidam da área de infraestrutura, na suposição de que haverá mais investimentos nos próximos anos. Cidades, hoje com o PR, Transportes, com o PRB e Minas e Energia, com o PMDB, são alguns dos que estão na mira petista.

    E também coloca no seu quinhão o ministério da Saúde, que passou para o PMDB no segundo governo Lula.

    Ao mesmo tempo, o PTB, o PP e o PR formaram um bloco na Câmara para a próxima legislatura que terá 103 deputados. Querem disputar de igual para igual com PT e PMDB as presidências de comissões e cargos na Mesa Diretora. E, quem sabe, formar um futuro partido de centro mais adiante.

    Já o PSB, o partido da base que mais cresceu proporcionalmente, também já mandou seus recados. Usou seus 6 governadores eleitos para respaldar a proposta de recriação da CPMF, uma tentativa tosca da futura administração de aumentar a carga tributária fingindo que nada tem a ver com isso.

    Como a idéia está tendo uma rejeição muito grande, pelo que representa de aumento de custos para a sociedade e, ao mesmo tempo, de enganação por parte do governo, que passou a campanha inteira defendendo a redução da carga tributária, a futura administração já começa a ter que lidar com as questões concretas de ter que cortar gastos para equilibrar as contas públicas e ter dinheiro para os investimentos que serão necessários.

    É por isso que volta a ganhar corpo a proposta “rudimentar” apresentada pelo então Ministro da Fazenda Antonio Palocci de manter as despesas do governo crescendo menos do que o PIB.

    O Ministro Paulo Bernardo, que deve permanecer no ministério de Dilma, embora não necessariamente no Planejamento, está do mesmo lado que há cinco anos, defendendo a mesma tese: com a medida, em quatro anos o governo conseguiria dobrar o volume de investimentos.

    Mas o PSB, ao mesmo tempo em que socorre o governo, também mostra que tem condições de fazer política para além da hegemonia do PMDB e do PT.

    Lançar a candidatura de Aécio Neves, do PSDB, à presidência do Senado, é só uma maneira de chamar a atenção para outras possibilidades dentro de alianças políticas numa base tão fragmentada, onde cada um cuida de seu interesse partidário.

    O PMDB, pragmático, está propondo simplesmente que cada um mantenha o que já tem.

    Os conflitos ideológicos, que serão inevitáveis dentro de uma aliança tão diversa quanto a que está sendo montada, também aparecem na oposição.

    O PPS já declarou, através de seu presidente, o deputado federal eleito por São Paulo Roberto Freire, que se sentiu incomodado com a discussão sobre o aborto ocorrida na campanha presidencial, e que pretende fazer uma oposição ao governo Dilma “pela esquerda”, dissociando-se assim de uma ligação com o Democratas, que forma no bloco de oposição, mas pretende explorar cada vez mais o que identificou como uma tendência conservadora do eleitorado brasileiro.

    Merval Pereira

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    Deve ler

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