Escândalos da Caixa de Pandora criaram um abismo entre os candidatos e os financiadores
Ana Maria Campos/Lilian Tahan/Correio Braziliense
O efeito dessa retração é o esfriamento da campanha. Ao contrário de disputas anteriores, os candidatos estão sendo obrigados a poupar recursos na arrancada do processo para reforçar a reta final, a partir de meados de agosto, quando começa o horário eleitoral. O Correio ouviu estrategistas das campanhas que confirmaram, nos bastidores, a excepcionalidade deste pleito. “É uma desconfiança jamais experimentada. Nem os empresários querem se comprometer, assim como os candidatos estão tomando todas as precauções para evitar novos escândalos”, disse um dos principais integrantes da coligação encabeçada por Agnelo (1) Queiroz (PT).
Assim como as empresas temem relacionar a marca ao meio político, os candidatos não querem ter a imagem associada publicamente às prestadoras investigadas pelo Ministério Público Federal, sob denúncia de corrupção no governo de José Roberto Arruda (DEM). Por isso, buscam alternativas. Empresas com sede em outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, ou que não foram citadas nas investigações são cobiçadas pelos tesoureiros das campanhas.
Instabilidade jurídica
Parte da resistência dos empresários em contribuir agora se deve também à instabilidade jurídica das eleições. Bem cotado nas pesquisas eleitorais, Joaquim Roriz, por exemplo, ainda precisa do aval da Justiça para permanecer na disputa. O caso do ex-governador é considerado mais grave do que o de Agnelo, que também teve a candidatura questionada. Há chances de que um desfecho sobre a situação de Roriz só ocorra no Supremo Tribunal Federal (STF). As incertezas espantam os financiadores.
Há quem atribua a temperatura morna desta campanha a uma estratégia de sobrevivência adotada por Roriz (2). Seus apoiadores preferem manter a disputa em fogo brando, evitando ataques e uma grande exposição pública. É como “manter um jogo no meio do campo, sem arriscar chutes a gol para evitar o contra-ataque”, analisa um dos principais aliados do ex-governador. Os rorizistas acreditam que os eleitores de seu grupo são cativos e que o adversário Agnelo Queiroz é quem precisa tirar a diferença.
Mesmo os candidatos mais abastados, que em tese não teriam maiores problemas para levantar recursos, estão engessados pelo rigor da Lei Eleitoral. Pelas regras em vigor na Resolução nº 23.217/2010 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pessoa jurídica só pode doar o correspondente a 2% do faturamento bruto do ano anterior da eleição. Há ainda outras normas que dificultam atualmente o uso de dinheiro não contabilizado. O limite de doações está ainda amarrado a regras mais rigorosas, que ajudam a Justiça Eleitoral a rastrear operações suspeitas. Os candidatos são obrigados a declarar desde os pedidos de serviço aos cheques nominais de gráficas contratadas para a impressão de material. “Hoje um empresário que usava à vontade o dinheiro de suas empresas e depois esquentava os valores com facilidade não consegue mais disfarçar essas manobras”, contou um experiente operador de campanha.
1 – Contestação
Foi impugnado pelo PTdoB, partido que integra a coligação do adversário Joaquim Roriz. A legenda alega que o petista teve as contas reprovadas durante o período em que foi ministro do Esporte. Agnelo apresentou declaração do Tribunal de Contas da União rebatendo a acusação de que deve à Justiça Eleitoral.
2 – Ficha Limpa
A impugnação do candidato foi pedida pelo Ministério Público Eleitoral, que enquadrou o concorrente na Lei da Ficha Limpa, uma vez que renunciou ao mandato de senador em 2007 para escapar de cassação. A defesa de Roriz afirma que uma lei não pode retroagir para prejudicar o candidato.