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    SEM MEDO DE PODER

    (MIGUEL LUCENA)

    Se nem a guerra cruenta,
    que ceifa milhões de vidas:
    Se nem a faca bandida,
    que ao seio firme ensangüenta:
    Se nem a tara nojenta
    de quem te rouba o prazer
    te faz sucumbir, ceder,
    então fites o infinito:
    Liberdade! – este é teu grito
    nas cancelas do poder

    Por que temer o poder,
    se as bombas americanas,
    se a miséria africana
    não te fizeram tremer?
    Pior do que o sofrer
    de enfrentar a reação
    é sentir a humilhação
    das croatas estupradas,
    é viver acorrentada
    aos pés da submissão!

    A volúpia que consome
    milhões de prostituídas
    flores na lama caídas – ;
    o bebê morto de fome
    no útero de quem não come
    na miséria nordestina
    não são acaso da sina.
    É o dragão da maldade
    que exclui mais da metade
    de uma Nação feminina.

    Ser só fonte de prazer,
    enfeite de candidato,
    rainha de lavar prato
    quando há o que comer?
    Não! Rache ao meio esse poder,
    mulher que ganha de meia!
    Toque fogo nessa peia
    que te marca tão profundo,
    E assim construa nosso mundo
    com paz, cimento e areia.

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