*Por Juliana Maria
Durante décadas, o mercado de trabalho seguiu uma lógica quase industrial: buscar o melhor especialista em uma tarefa específica. O engenheiro que domina um único componente. O publicitário que respira métricas de conversão. O programador que só fala back-end. A regra era clara: dominar um único tema. Mas nem todo mundo nasce com uma “vocação única”, um true calling. A exigência por ensino formal está em declínio. Hoje, ganha espaço quem entrega resultados, não apenas quem apresenta um diploma.
Alinhado a essa virtude, ganha força o conceito de polimatia, a capacidade e o desejo genuíno de se aprofundar em diversas áreas. No novo mundo do trabalho, essa diversidade de interesses e habilidades tornou-se uma poderosa vantagem competitiva. A hiperespecialização, antes valorizada, revela-se uma armadilha em um mundo que exige integração, adaptação e visão ampla. O profissional que responde “isso não é meu escopo de trabalho” ou “isso eu não sei fazer” está, na prática, abrindo mão de participar do futuro.
Em um cenário de mudanças aceleradas, problemas complexos e fronteiras cada vez mais difusas entre áreas, quem se destaca é o polímata, ou seja, o profissional versátil que alia profundidade em um campo a um repertório amplo em outras disciplinas. É aquele que, diante do desconhecido, não recua: pede um tempo e aprende.
Isso não significa que o especialista será extinto. Em funções técnicas ou altamente reguladas, ele continua sendo essencial. Mas, isoladamente, é insuficiente. Mesmo nessas áreas, trabalhar com amplo conhecimento em tecnologias de vários tipos será necessário. O mundo corporativo real não organiza seus desafios por departamentos. Projetos de transformação digital, sustentabilidade, diversidade, inovação ou inteligência artificial não podem ser enfrentados por uma única lente. São temas, por natureza, interdisciplinares e exigem profissionais capazes de costurar saberes distintos.
Hoje, a capacidade de aprender constantemente — o chamado long life learning — tornou-se essencial. Segundo o Fórum Econômico Mundial, 50% dos trabalhadores precisarão passar por requalificação (reskilling) até o final de 2025, com setores como tecnologia, saúde e indústria liderando essa transformação. O futuro exigirá mais do que domínio técnico: exigirá flexibilidade mental, curiosidade ativa e disposição constante para aprender.
Os polímatas são ativos valiosos nesse contexto. Mais do que se adaptarem às mudanças, são os primeiros a enxergar novas conexões, tendências e oportunidades. Não estão apenas acompanhando o mercado, mas, muitas vezes, estão moldando o que vem a seguir.
Essa capacidade vem talvez do acervo de referências e experiências que esse profissional já teve, como uma verdadeira caixa de ferramentas mental, ele tem a capacidade de analisar as situações, imaginar cenários e escolher as melhores estratégias para elaborar um plano de ação.
Multinacionais e grandes corporações já entenderam isso: contratam não apenas pela experiência específica, mas pelo conjunto de habilidades, pela agilidade mental e pela capacidade de adaptação. Seus times não são formados apenas por especialistas. Elas valorizam a diversidade de pensamento, reunindo engenheiros, designers, antropólogos de dados, filósofos e storytellers. Porque a inovação real nasce da convergência criativa entre saberes diferentes.
O polímata do século XXI é um profissional com base sólida, mas que escolheu não se limitar a ela. Aprende rápido, conecta pontos e entende que não saber não é uma barreira, é apenas o ponto de partida. E essa postura é mais do que desejável: é inevitável. As demandas do mercado atual exigem pessoas dispostas a sair da zona de conforto, aprender o que for preciso e contribuir com soluções amplas.
O profissional do futuro é menos um executor de tarefas e mais um resolvedor de problemas. Não busca o perfeito, mas entrega o bem feito. Age como um verdadeiro Maestro de ferramentas e pessoas, orquestrando as melhores soluções, alinhando a experiência prática ao foco nos resultados. Os Polímatas já sabem que estar aberto a aprender sempre vai levá-los mais longe, afinal o futuro do trabalho não é apenas tecnológico; é também humano, criativo e múltiplo. E os polímatas não são apenas bem-vindos nesse futuro. Eles são essenciais.
Juliana Maria é é Head de HCM na Senior Sistemas