Tribunal de Contas do DF aponta estouro nos gastos em obra da arena
Órgão cobra do consórcio construtor a devolução de R$ 99,9 milhões e identificou outros R$ 112 milhões em desvios. Estádio já custou R$ 1,2 bilhão
BRASÍLIA – Auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) encontrou distorções que somam até agora R$ 212,3 milhões na construção do Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha, um dos 12 da Copa do Mundo de 2014. O levantamento mostra que a arena de Brasília, com 71 mil lugares, é a mais cara sob todos os aspectos. O preço por assento, por exemplo, de R$ 16.938, é mais de duas vezes superior ao mais barato, o Castelão de Fortaleza (R$ 7.740).
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As 12 arenas da Copa tiveram de ser construídas ou reformadas para atender às exigências da Fifa, mas nenhuma conta ficou tão salgada quanto a de Brasília. O custo por assento superou em quase 40% o do segundo colocado – o Itaquerão (R$ 12.615) – e deixou bem para trás o do novo Maracanã (R$ 10.636), sede da final da competição, que teve de ser reconstruído.
O tribunal já está cobrando do consórcio construtor a devolução de R$ 99,9 milhões, e abriu prazo de defesa para o governo local explicar outros R$ 112,4 milhões em desvios que foram identificados.
Os problemas envolvem superfaturamento, cobrança de serviços em duplicidade, erros de quantitativos, mudança de itens do projeto original e barbeiragens gerenciais. Eles ajudam a explicar por que o estádio tornou-se o mais caro de todos os selecionados para a Copa.
Até agora, segundo cálculo do conselheiro Manoel de Andrade, relator do processo de acompanhamento da obra, a construção atinge a soma de R$ 1,2 bilhão – maior do que o orçamento de investimento de alguns ministérios e quase R$ 400 milhões acima do gasto do Itaquerão (R$ 820 milhões). A diferença já é de 57,9% em relação ao orçamento inicial, que era de R$ 696,6 milhões.
Na sua avaliação, a conta final deverá superar a cifra de R$ 1,5 bilhão porque ainda não foram computados itens licitados à parte, como a cobertura da arena, assentos, painéis, gramado, heliporto e tratamento acústico e visual. Só os túneis que ligam o estádio com o Centro de Convenções e outros pontos do seu entorno, também contratados separadamente, custarão R$ 305 milhões.
“Não estou preocupado com o tamanho da obra ou se ela foi superdimensionada, mas com a execução integral do projeto básico e executivo”, disse Manoel de Andrade.
O valor do estádio, que começou a ser construído em julho de 2010, atingiu os valores atuais após 21 aditivos – 14 dos quais foram questionados. Eles fizeram o custo da obra subir R$ 337,4 milhões.
NOTA OFICIAL
A auditoria é feita há um ano em caráter permanente e inclui visitas periódicas à obra e análise dos custos de materiais e serviços. A força tarefa montada pelo tribunal inclui especialistas nos diversos ramos da engenharia, inclusive em cálculo estrutural.
Em nota, o governo do Distrito Federal negou irregularidades nos gastos com a obra do estádio, disse que respondeu a todos os questionamentos do tribunal e assegurou que a arena terá atividades que garantirão sua viabilidade econômica depois da Copa.