Artur Benevides
No distrito Federal, segundo aferições da secretaria de transportes, 64% da população utilizam transporte público e 36% se deslocam utilizando transporte individual. O acesso mais fácil ao automóvel, consequência do aumento da renda e das facilidades de crédito, além da redução relativa dos preços, explica este ilusório equilíbrio. Explica também as dificuldades de circulação – ou “mobilidade” – induzida pelo aumento da frota, que chega a 1,5 milhão de veículos, número que dobrou em pouco mais de dez anos, com uma relação de um veículo por dois habitantes, padrão europeu. Como o número de veículos cresceu em desproporção com os investimentos realizados na ampliação de vias e espaços de estacionamento, o estrangulamento que se verifica tornou-se inevitável. Com tendências a piorar até um ponto de virtual estrangulamento, o que já parece bem próximo de acontecer.
Ou não. O corpo de técnicos da secretaria acredita que é possível reduzir a dependência com relação ao transporte individual, que é menos eficiente, abrindo espaços para a circulação de coletivos. No curto prazo esta é a orientação, já estando previstas restrições à circulação de veículos de passeio em áreas do centro da cidade, com limitações também para estacionamento. Com as mudanças programadas serão ampliadas também as calçadas, facilitando a movimentação de pedestres e criando ambientes – com arborização, ajardinamento e oferta de equipamentos de conforto – mais amigáveis. Por outro lado, serão ampliadas as ciclovias e os corredores exclusivos para ônibus, além da introdução, já no próximo ano, do BRT, tornando viável, no entendimento desses especialistas, a opção pelo transporte coletivo.
Nas condições que se apresentam, esta parece ser uma aposta de alto risco. O sistema de transporte público, mesmo respondendo por pouco mais da metade da demanda, é reconhecidamente lento e ineficiente, sendo altamente improvável que as mudanças programadas alterem este quadro, a ponto de representarem um convite à substituição do automóvel pelo ônibus. Trata-se de contornar o problema, de fazer de conta que soluções estão sendo encontradas, o que não é verdade. Mudanças mesmo, apontam técnicos independentes, só poderão acontecer a partir da oferta de sistemas de alta capacidade, da multiplicação de linhas de metrô, à semelhança do que acontece nas grandes cidades europeias. Com linhas subterrâneas para todos os lados, ficaria simples fechar quarteirões, criar parques e ciclovias.
A aposta no transporte coletivo é um equívoco pelo qual será pago, adiante, um preço ainda maior.