Falta de integração entre os sistemas público e privado, experiência do paciente fragmentada e escassez de profissionais capacitados são os principais motivos, segundo especialistas que participaram do Conahp2021
Com a aceleração da digitalização na Saúde, o volume de dados coletados cresceu exponencialmente. Ainda que as informações sejam fundamentais para as predições e investimentos em cuidados com a população, as empresas privadas e o governo enfrentam dificuldades em transformar o conhecimento em soluções. Na palestra “A importância da gestão da saúde baseada em dados e o desafio para construir uma base de informações qualificada e integrada”, do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), Vikram Kapur, sócio da Bain & Company, Rudi Rocha, professor associado da FGV EAESP e diretor de pesquisa do IEPS eMohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento analisaram os cenários no Brasil e na Ásia e encontraram dificuldades semelhantes nas regiões.
Segundo Kapur, há desafios para coletar, compartilhar e traduzir dados, como a relutância das empresas em dividir informações, a falta de confiança em dados externos, o alto custo para prestadores reunirem informações internamente e as leis de proteção de dados. Para Rocha, somado a isso, “existe um gargalo de recursos humanos muito sério no Brasil. Uma coisa é gerar, armazenar e integrar base de dados, outra coisa é converter em conhecimento, em ação e solução. Não vejo o País formando profissionais suficientes para o mercado”, alerta.
Ainda que haja incerteza sobre a capacitação de profissionais, Rocha acredita que as inovações que surgem baseadas em dados e algoritmos podem gerar ganhos de eficiência para quem estiver bem-posicionado. “Nós temos muita capacidade instalada, sistemas de informação impressionantes em perspectivas internacionais, como DATASUS, mas ainda muito fragmentados entre os setores público e privado e muito deficientes de integração”, analisa.
Kapur ressalta, entretanto, que “sistemas complexos e separados fazem com que a jornada do paciente não seja determinada, o que leva a uma divisão limitada de incentivos econômicos e a uma baixa integração clínica. Consequentemente, a experiência do paciente é pobre, com pouca oportunidade de caminhar em direção ao modelo que o coloca no centro do cuidado”, explica.
O resultado vai na contramão da expectativa do usuário. De acordo com uma pesquisa apresentada por Kapur, um novo tipo de consumidor está emergindo, nos últimos 3-5 anos. Agora, o paciente está interessado em manter os cuidados com a saúde, espera ter conveniência no atendimento e realiza pesquisas online, para entender seus sintomas e tratamento. Além disso, também espera um aumento no uso de ferramentas digitais, mas quer que seja de modo unificado. “Cerca de 85% dos pacientes gostariam de ter um ponto único para gestão da saúde do início ao fim. Os usuários querem mais integração e querem navegar sozinhos pelas ferramentas. Mesmo com o aumento da digitalização, 2/3 ainda querem ter interação física com médicos, não querem ficar totalmente em ambiente online”, ressalta.
Serviço:
Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2021)
Tema: Saúde 2030: Desafios e Perspectivas
Data: 18 a 22 de outubro
Inscrições: https://conahp.org.br/2021/