Num duro discurso, Roriz inaugura comitê na Asa Norte com repúdio aos adversários
Ao inaugurar na Asa Norte o primeiro comitê eleitoral da coligação “Esperança Renovada” no Plano Piloto, tradicional reduto eleitoral petista, o candidato a governador Joaquim Roriz (PSC) fez um discurso indignado contra a série de ataques dos adversários. Criticou a onda de denuncismo da oposição, o tratamento que vem recebendo por parte da Justiça Eleitoral do DF e a discriminação da elite brasiliense pela obras que faz para a população pobre.
“Nós temos adversários que não têm escrúpulos, é uma pena”, acusou Roriz. “Eles podem roubar, podem matar, podem estuprar, podem tudo. Eu sou processado por qualquer coisinha: se construo um hospital, se construo uma ponte, um restaurante comunitário. Falam mal de mim porque eu dei lote para os humildes”, reclamou Roriz, ironizando: “Até se eu ficar depois das 22 horas, eu ganho um processo. Mas avisem a eles: Roriz é candidato. Roriz não vai abandonar ninguém e Roriz vai ganhar em primeiro turno”.
Os “sem escrúpulos”
O desabafo de Roriz tinha endereço certo: a chapa majoritária da coligação “Um Novo Caminho”, comandada pelo ex-ministro do Esporte, Agnelo Queiroz. O candidato do PT, que se apresenta aos eleitores como “opção ética”, acumula uma longa lista de processos. Agnelo é acusado pela Polícia Civil do DF de comandar desvio de R$ 3 milhões do Programa Segundo Tempo, dinheiro do ministério do Esporte que deveria ser destinado a atletas de famílias carentes de Sobradinho.
O candidato do PT também é acusado de enriquecimento ilícito no período em que foi ministro e, depois, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Confira o que a revista “Época” apurou e publicou na edição de março de 2010 sobre o candidato petista:
“Na declaração de bens que apresentou à Justiça Eleitoral em 2006, Agnelo Queiroz informou que dispunha de R$ 45 mil em contas em quatro bancos e um apartamento no valor de R$ 78 mil. Todos os seus bens somavam R$ 224.300. Menos de quatro meses depois, ele deu uma entrada de R$ 150 mil para a compra de uma casa com mais de 500 metros quadrados de área construída numa das regiões mais valorizadas de Brasília – o Setor de Mansões Dom Bosco, vizinho ao Jardim Botânico. Ele diz que quitou o imóvel em cinco parcelas mensais. O valor registrado na escritura foi de R$ 400 mil. Agnelo afirma que não fez empréstimo nem se desfez de nenhuma propriedade para pagar o imóvel. “Usei o dinheiro de minhas economias e as de minha mulher”, disse. Agnelo apresentou as declarações de Imposto de Renda dele e da mulher referentes aos anos de 2006 e 2007 e extratos bancários. As informações mostram que o casal não tinha recursos para pagar nem a metade do valor declarado da casa. No mesmo período, Agnelo comprou mais dois apartamentos financiados e um carro.”
Agnelo também é acusado de grilar terras públicas. O candidato petista invadiu um enorme terreno ao lado da mansão que ele comprou no Lago Sul. Na área invadida construiu um lago, uma quadra de tênis e um campo de futebol, tudo com refletores. Recentemente, numa reunião com síndicos de condomínios irregulares no Lago Sul, Agnelo defendeu as chamadas “invasões de ricos”. “Uma das questões centrais do nosso programa é a regularização dos condomínios. Nós temos que enfrentar todos os problemas com dedicação e celeridade”, prometeu o candidato, segundo o jornal “Tribuna do Brasil” do dia 23 de agosto.
A elite preconceituosa
Roriz também condenou o comportamento preconceituoso dos ricos que criticam a opção que ele fez pelos pobres quando governou o DF. “Vejam as cidades que construí, vejam quantas famílias que sequer tinham um pão e hoje têm um lar”, comparou Roriz, questionando por que a mesma elite não critica as cidades e bairros construídos para a classe média. “Por que ninguém fala das coisas erradas do Sudoeste, do Noroeste? Só falam coisas negativas de Samambaia, do Paranoá”, reclamou, avisando: “Não há a menor possibilidade de eu desprezar os que não tiveram oportunidade na vida”.
Para Roriz, desconhecem a história de Brasília os que o criticam pelo surgimento de favelas no Distrito Federal. O candidato lembrou: “Quem construiu uma capital no centro do país para atrair a atenção de todos os brasileiros foi Juscelino (Kubitschek), o maior estadista de todos os tempos. Quem incentivou a migração não fui eu, foi Juscelino”.
Em 1980, segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Distrito Federal era de 1.176.935 habitantes. No dia 20 de setembro de 1988, quando assumiu pela primeira vez o governo, Roriz encontrou 64 favelas no Plano Piloto e 470 loteamentos irregulares nas cidades do DF. Nesses lugares viviam cerca de 600 mil pessoas, o equivalente a 35% da população da capital. Em termos comparativos, a população favelada existente em 1988 era três vezes maior do que o número de habitantes do Plano Piloto em 2000 (227,4 mil pessoas). Roriz, portanto, não trouxe favelados. Elas já vivam em Brasília. O que Roriz diz ter feito foi acabar com as favelas. “Quantos antes de mim deram lotes?”, perguntou, respondendo: “Nenhum. Mas eu me orgulho disso”.
Para Roriz, os que o acusam de trazer favelados são os mesmos que vieram para Brasília com emprego garantido, altos salários e apartamentos funcionais no Plano Piloto. Uma “elite preconceituosa” que agora se sentiria no direito de criticar Roriz por dar “pão, leite e lote” aos que aqui chegaram “sem emprego, sem salário, sem moradia”.
O discurso de Roriz foi acompanhado por mais de 300 pessoas, a maioria de classe média que vive no Plano Piloto. O apoio desses moradores e a participação deles na inauguração de comitê na Asa Norte, foi uma demonstração de que boa parte da classe média também quer a volta de Roriz.