Dono de supermercado revelou à PF que pagou propina a mando de Joesley Batista
O irmão do senador Ciro Nogueira (PP), Gustavo Nogueira, recebeu R$5 milhões em mochilas, a pedido do executivo da J&F Joesley Batista. É o que revelou à Polícia Federal o empresário Reginaldo Mouta Carvalho, dono do Supermercado Carvalho, no Piauí, em depoimentos prestados em fevereiro e em abril de 2019, no âmbito da Operação Compensação.
A investigação apura o pagamento de quase R$43 milhões da holding para a suposta compra do apoio do PP à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, e à sua permanência no cargo, por ocasião do impeachment de 2016.
Em fevereiro de 2019, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, determinou o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra endereços de Nogueira e de outros investigados. Na ocasião, Reginaldo Mouta Carvalho detalhou que pagou as primeiras parcelas em mãos a Gustavo Nogueira, e que as demais parcelas ele determinou que fossem pagas pelo tesoureiro da empresa, Gilson de Oliveira Andrade, que já havia revelado à PF uma planilha que demonstrava os repasses feitos pelo supermercado ao irmão do senador.
O empresário ainda relatou que o dinheiro era acondicionado em mochila pelo próprio Gustavo Nogueira, após conferência; que o irmão do senador compareceu sozinho, e que desconhece em qual veículo ele chegava. E detalhou que a ordem para efetuar o pagamento no valor total de R$ 5 milhões foi dada diretamente por Joesley Batista em uma única ocasião, porém foi executada em diversas parcelas, conforme o vencimento das faturas.
“Os valores constantes da planilha foram compensados e descontados dos valores efetivamente devidos pelo Comercial Carvalho à empresa J&B [sic], em razão do fornecimento de produtos faturados, conforme informado à Receita Federal”, disse Reginaldo Mouta Carvalho.
As informações sobre o depoimento foram divulgadas pelo jornalista Fausto Macedo, do Estadão.
Amizade e crise com empresário
As informações confirmaram relatórios que a PF já tinha em mãos, sobre empresas e familiares de Ciro Nogueira. Mas o senador Ciro Nogueira e seu irmão negaram o recebimento dos R$ 5 milhões do empresário, rechaçaram a planilha de repasses e afirmaram, em depoimentos, que Mouta mentiu ao negar proximidade com eles, ao alegar que têm relações com o dono do supermercado há anos.
Gustavo Nogueira detalhou que manteve amizade de mais de dez anos com Reginaldo Mouta Carvalho e que chegou a ir com o dono do supermercado assistir uma corrida de Fórmula 1 em São Paulo.
Já o senador Ciro Nogueira relacionou os depoimentos do empresário a dificuldades financeiras graves por que o Supermercado Carvalho estaria passando por uma crise econômica em virtude de brigas entre Reginaldo Mouta e sua ex-esposa. O presidente Nacional do PP disse em depoimento que ‘passou a entender que Reginaldo possui uma dependência muito grande de Joesley Batista, podendo esse ser um dos motivos pelos quais Reginaldo Carvalho teria assumido essa versão sobre o repasse de dinheiro para ele’.
Ciro disse “saber dizer” que o dono do supermercado “sempre manifestou um apreço muito grande por Joesley Batista, dizendo que o grupo J&S [sic] é uma das principais âncoras da Comercial Carvalho e sem ele provavelmente a empresa fecharia”.
Após os depoimentos dos irmãos Nogueira, o empresário voltou a negar a amizade e a confirmar os repasses de R$ 5 milhões ao irmão do senador. E disse nunca ter assistido corrida de Formula 1, ao relatar que chegou a ir a São Paulo, para ver uma corrida de Kart.
O dono do supermercado disse que manteve com Gustavo Nogueira conversas sobre a venda de imóveis, nunca concretizada.
Segundo os delatores da J&F, R$ 40 milhões dos supostos repasses a partidos para garantir apoio a Dilma teriam sido enviados ao MDB. Esquema este investigado no âmbito da Operação Alaska, teve como alvos o senador Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM).
Fonte: Cláudio Humberto/Diário do Poder