Os jornais hoje dão destaque ao pedido de perdão pelos pecados feito por José Roberto Arruda, que, protagoniza o escândalo conhecido como mensalão do DEM, deflagrado pela operação caixa de Pandora, da polícia federal.
O escândalo da moda tem cenas que escancaram a má-fé, em qualquer acepção que a expressão possa ser interpretada. A oração da propina exemplificou o desrespeito para com as pessoas religiosas.
Hoje, a notícia é sobre o pedido de perdão feito por Arruda, em mais um capítulo de exploração religiosa e de escárnio para com os que são religiosos.
O fato de pessoas religiosas pecarem não é algo surpreendente. Religião, em sua etimologia, traz a idéia de religar o homem com Deus. O desligamento provocado pelo pecado. O pedido de perdão, franqueado a todos, é fruto da vontade do homem de estar ligado ao Ser supremo.
O perdão dos pecados, graça de Deus, traz em si o próprio perdão, acrescido da graça especial para não incidir no pecado. Quanto mais sincero o arrependimento, maior a força para não incidir no mesmo erro. Cair e levantar é o principal apanágio da vida do Cristão, que combaterá até o fim de sua vida.
Arruda pedir perdão é, no sentido religioso do tema, algo louvável. Mas não basta pedir perdão, é preciso que ele seja sincero e que seja acompanhado de ações que comprovem o arrependimento, sob pena de não passar de um ato exterior vazio.
O Catecismo da Igreja Católica é muito explicativo sobre o assunto, ao dizer que “Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros de sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial”. Igreja que é aberta a todos – por pior que seja o pecado – que queiram receber gratuitamente o perdão dos pecados e unir-se ao mistério pascal.
As fases necessárias para obtenção do pecado passam pela contrição, aquela em que homem auto avalia as condutas, pensamentos e omissões de sua vida e se reconhece como pecador e carecedor da misericórdia divina. É um exame de consciência. A confissão, propriamente dita, em que o pecado é assumido é confessado. É um ato concreto de quem após reconhecer a sua condição humana de pecador, pede perdão, que será concedido por Deus, que sempre está sedento para perdoar. É um mistério que faz parte do amor de Deus. O terceiro elemento da estrutura da obtenção do perdão é a satisfação. A Igreja explica “é preciso fazer o possível para reparar o mal (por exemplo, restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi caluniado, etc.)”. O arrependimento importa em aceitar as consequências do pecado. A simples justiça exige isso. O Concílio de Trento é bastante claro ao ensinar que “a absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens que ele causou”.
Não tenho autoridade moral para julgar a sinceridade do pedido de perdão de Arruda e nem de qualquer outra pessoa. Espero que o pedido de perdão seja sincero, mas, assim como preciso ser lembrado todos os dias pela Igreja, seria bom que ele fosse advertido de que aceitar o peso da Cruz é um exercício difícil, mas que torna o arrependimento realmente eficaz.
Acho oportuno dizer tais coisas, pois evitaria um reducionismo inconcebível e inaceitável sobre a dimensão de um grande mistério do amor de Deus, o perdão dos pecados. Não tenho autoridade eclesiástica ou conhecimentos suficientes de teologia ou ainda amadurecimento religioso suficiente para explicar a profundidade de tal mistério. Santo Padre Pio, em diversas oportunidade negou o sacramento do perdão, pois conseguia perceber que a não-aceitação das consequências do pecado fazia com que o arrependimento não fosse sincero.
Lembrar ao Arruda, e a todos, em especial a mim mesmo, que na estrutura fundamental da obtenção do pecado existe três elementos, análise da consciência, confissão e aceitação da penitência e das consequências do pecado me parece importante. Digo mais, na minha vida, a maior dificuldade não é me reconhecer como pecador ou pedir perdão, mas aceitar que sofrimentos que experimento devem ser encarados como pena justa, até leve, pelas consequência do mal que pratico. Dr. André de Moura