O motorista Geraldo Nascimento de Andrade é a testemunha que garante ter visto Agnelo Queiroz recebendo R$ 256 mil desviados do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, pasta já ocupada pelo atual candidato do PT ao governo do Distrito Federal. Geraldo tinha sido preso temporariamente e ouvido pela polícia no início deste ano, conforme a revista Época, mas não teve seu nome revelado naquela reportagem. Ele decidiu assumir agora a condição de testemunha identificada porque sofreu ameaças de morte.
Em maio deste ano a revista Época informou que uma investigação deflagrada pela Policia Civil do Distrito Federal, batizada de Operação Shaolin, prendeu cinco pessoas, apreendeu documentos e colheu depoimentos sobre o destino de quase R$ 3 milhões repassados pelo Ministério do Esporte a ONGs e a duas associações de kung fu de Brasília, mas que não foram aplicados junto a jovens carentes. As comprovações das despesas junto ao Ministério do Esporte foram feitas mediante notas fiscais falsas, a partir de empresas administradas por Miguel Santos Souza. Miguel foi quem empregou Geraldo Nascimento de Andrade como motorista e o convenceu a ser sócio de uma das empresas que participavam como laranja das licitações abertas por intermédio do Programa Segundo Tempo.
Detido após investigações iniciadas em 2007, Geraldo Nascimento de Andrade assinou termo de declaração referente ao Inquérito Policial 028/2009, perante os delegados Guilherme Henrique Nogueira e Giancarlos Zuliani Junior, ambos da Delegacia de Combate ao Crime Organizado, e do promotor de Justiça Nelson Faraco de Freitas, titula da 2ª Promotoria de Justiça de Fundações e Entidade de Interesse Social. Pelo termo assinado, Geraldo contou que foi até a cidade satélite de Sobradinho, a mando de Miguel Santos Souza e acompanhado de Eduardo Pereira Tomaz, que trabalhava no programa Segundo Tempo, e que viu quando Agnelo Queiroz recebeu a mochila contendo R$ 256 mil. Segundo a revista Época, a testemunha revelou que o ex-ministro Agnelo despejou o dinheiro no chão do carro, um Honda Civic preto, para conferir os valores e, ao final, tirado R$ 1.000 e dado como gorjeta aos dois.
Os R$ 256 mil faziam parte dos quase 3milhões que seriam destinados ao financiamento de material esportivo e atividades para 10 mil jovens carentes em Brasília, por intermédio do programa “Segundo Tempo”, do Ministério do Esporte. Notas fiscais frias ajudaram a desviar os milhões para compra de casas, academias, carros e gastos na atual campanha política.
O delegado Giancarlos Zuliani Junior despachou o processo no dia 19 de maio de 2010 afirmando que Agnelo Queiroz se valeu de sua condição de ex-Ministro do Esporte para se beneficiar de um esquema de desvio de recursos pertencentes a associações que receberam verbas do Programa Segundo Tempo. Agnelo moveu ação judicial contra Zuliani. “Não adianta tentarem intimidar o trabalho da polícia”, reagiu o delegado. No Ministério Público Federal estão trabalhando no caso os procuradores Raquel Branquinho e José Diógenes Teixeira. Na Policia Fedeal foi instaurado o inquérito 707/2010, presidido pelo delegado Fernando de Almeida, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Fazendários. Apesar das provas reunidas, Agnelo conseguiu obter registro e concorrer ao GDF.
PASSO A PASSO DO REPASSE DO DINHEIRO
Segundo o termo de declaração, Geraldo e Eduardo se deslocaram da 711 norte do plano piloto para Sobradinho em um Fiat Palio de cor verde de placa JGD 7919; que chegaram a Sobradinho por volta das 20h30min do dia 8.8.2007; que o declarante estacionou o citado veículo próximo a um restaurante que vende carne de sol, em frente a concessionária da Honda; que passados alguns minutos em Honda Civic de cor preta estacionou do lado do Fiat/Palio do declarante; que o Honda Civic estacionou quase emparelhado com o Palio, de modo que a janela do declarante ficou a aproximadamente um metro de distancia da janela do passageiro do Honda Civic; que ato contínuo, Eduardo desceu do Fiat Palio e foi conversar com o passageiro do Honda Civic; que o passageiro do Honda Civic perguntou para Eduardo “quanto ele mandou para mim”; que Eduardo disse “duzentos e cinqüenta e alguma coisa”; que o passageiro do Honda Civic disse para Eduardo “mas esse não era o combinado”; que Eduardo respondeu “vê com ele depois”; que então Eduardo pediu para o declarante lhe passasse a mochila onde se encontrava os duzentos e cinqüenta mil reais; que o declarante abriu a mochila e entregou para Eduardo; que Eduardo pegou tal mochila e repassou para o passageiro do Civic Honda; que o passageiro do Civic Honda despejou o dinheiro no chão do veículo e devolveu a mochila para Eduardo; que o passageiro do Honda Civic pegou um maço de cinco mil reais, tirando um mil reais do mesmo; que tal pessoa entregou quinhentos reais para o declarante e para Eduardo, a título de gorgeja; que tudo isso ocorreu enquanto os carros estavam emparelhados no citado estacionamento; que de imediato o declarante não identificou o passageiro do Honda Civic de cor preta; que passado alguns segundos da entrega do dinheiro, enquanto os veículos estavam emparelhados e Eduardo já havia voltado para dentro do Fiat Palio, Eduardo perguntou ao declarante “você sabe quem é esse cara aí?”, sendo que o próprio cara respondeu “é o Agnelo”; que nesse momento o declarante olhou para o lado e confirmou visualmente que a pessoa que recebeu o dinheiro seria Agnelo Queiroz; que isso tudo ocorreu enquanto os veículos estavam emparelhados e Agnelo conferia o dinheiro recebido; que o local onde ocorreu a mencionada entrega possuía boa iluminação, razão pela qual o declarante pode afirmar com convicção que Agnelo Queiroz foi a pessoa que recebeu a mochila contendo duzentos e cinqüenta e seis mil reais.