A história que está deixando alguns políticos e empresários tensos em Goiás e em Brasília, começou em março de 2023, quando a Câmara de Vereadores de Goiânia (GO) decidiu instalar a Comissão Especial de Investigação (CEI) para apurar denúncias envolvendo a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), presidida por Alisson Borges.
O pedido de investigação foi feito pelo vereador Ronilson Reis (Solidariedade) e 24 vereadores aprovaram a CEI para investigar as denúncias de corrupção.
Ronilson afirmou que a CEI visava investigar as supostas irregularidades na administração, bem como as dívidas da Comurg com o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas), com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e fornecedores, contratos e aditivos.
O vereador citou, ainda, que em 2022 o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) enviou um projeto com previsão de R$ 30,7 milhões em suplementação para a Comurg, mas que o mesmo foi retirado após pedido de explicações pelos parlamentares. Além disso, afirmou que a companhia tem déficit mensal de R$ 6 milhões e que aumentou de forma expressiva o número de comissionados.
Em março de 2023, o então presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, Romário Policarpo afirmou durante sessão, que a prefeitura fez um pagamento de R$ 8 milhões à companhia por obras e serviços não realizados. Os trabalhos deveriam ocorrer em 2021.
QUASE MEIO MILHÃO DE REAIS NA CASA DE ALISSON BORGES
O tempo passou e nesta quarta-feira (20), após operação policial (PCGO) que cumpriu 32 mandados de busca e apreensão, Alisson Borges rapidamente renunciou ao cargo após policiais encontrarem R$ 431 mil na casa dele.
As investigações apontam que os envolvidos se uniram para vencer licitações promovidas pelos órgãos investigados, que eram ofertados em concursos realizados em forma de pregão eletrônico. Foram identificadas supostas fraudes em ao menos cinco licitações em que os investigados se uniram para vencer os lotes de maior valor, excluindo assim os outros concorrentes por meio do crime conhecido como “mergulho de preço”.
Mais de R$ 50 milhões foram recebidos por meio dos contratos, que consistiam em fornecer material para construção das obras de recapeamento da malha asfáltica que é executada pela Prefeitura de Goiânia. A Polícia Civil informou que 10 contratos em favor dos investigados foram gerados a partir das cinco licitações com suspeita de fraude. Uma certidão falsa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi apresentada para vencer a licitação.
Ainda segundo as investigações, os crimes teriam ocorrido desde 2022 até o momento na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), Secretaria Municipal de Administração (Semad), Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) e na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg).
Veja quem compõe o núcleo empresarial investigado:
- José Teodoro de Oliveira e sua ex-esposa, Wilma Alves de Sousa, que são sócios das empresas Comercial J. Teodoro Ltda;
- Raimundo Rairton Paulo de Assunção e sua esposa Jakeline Dutra de Aguiar Assunção, que são sócios administradores das empresas Sobrado Materiais para Construção Eireli e Gyn Comercial e Atacadista Ltda.
Compõe o núcleo de funcionários públicos investigados:
- Alisson Silva Borges (Diretor-Presidente da COMURG)
- Denes Pereira Alves (Secretário Municipal de Infraestrutura Urbana de Goiânia e ex-Secretário Municipal de Administração, o qual cumulou os referidos cargos até o final do ano passado)
- Edimar Ferreira da Silva (Diretor de Urbanismo da Comurg)
- Adriano Renato Gouveia (Diretor administrativo-financeiro da Comurg)
- Luan Deodato Machado Alves (Presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente)
Pregoeiros, gestores e fiscais das licitações e contratos supostamente fraudados, a saber:
- Ana Paula Salviano Campos (Pregoeira da Comurg)
- Mônica Luíza Vicznevski (Pregoeira da Comurg)
- Suzana Carneiro de Oliveira (Pregoeira da Comurg)
- Kerley Lanuce Pereira de Araújo (Gestor de Contratos da Comurg)
- Luiz Sávio Dias Cardoso (Fiscal de Contratos da Comurg)
- José Fernandes de Queiroz Júnior (Gestor de Contratos da Comurg)
- Nilton César Pinto (Fiscal de Contratos da Comurg)
- Wellington Alves de Oliveira (Fiscal de Contratos da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana de Goiânia – Seinfra)
- Cleverson Alves Ferreira (Pregoeiro da Semad)
- Hendy Adriana Barbosa de Oliveira (Pregoeira da Comurg)
- Mylenna Francisco Araújo (Pregoeira da Comurg)
- Suziane da Silva Sampaio (Fiscal de Contratos da Amma)
- Elissa Andrade Zago Ribeiro (Fiscal de Contrato da Amma)
COMO ROGÉRIO CRUZ CHEGOU AO PODER EM GOIÂNIA
O ex-vereador Rogério Cruz (Republicanos), foi eleito vice do prefeito Maguito Vilela (MDB) no pleito de 2020. Com o falecimento de Maguito Vilela em 13 de janeiro de 2021, o presidente da Câmara, vereador Romário Policarpo, assinou a extinção do cargo de prefeito para o qual o emedebista tomou posse ainda na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde outubro de 2020, recuperando-se de complicações após contaminação pelo novo coronavírus.
Com isso, Cruz tomou posse definitiva como chefe do Executivo em Sessão Solene realizada em 15 de janeiro de 2021 na Câmara de Goiânia.
Tão logo Rogério Cruz assumiu o comando da Prefeitura, imediatamente o presidente regional do Republicanos no Distrito Federal, Wanderley Tavares se dirigiu a Goiânia, e antes de completar três meses de mandato, o prefeito promoveu uma ampla reforma administrativa. Sequer levaram em conta o legado deixado pelo ex-prefeito Iris Rezende (MDB).
Não demorou muito e Cruz passou a ser pressionado pela cúpula de seu partido a promover mudanças, e em reuniões com o presidente do MDB-GO, Daniel Vilela, as primeiras alterações foram anunciadas. Apesar da resistência inicial e do alerta das consequências que tais mudanças ocasionariam, a decisão já estava tomada. A surpresa maior estava no interlocutor: Wanderley Tavares, presidente do Republicanos no Distrito Federal (Clique Aqui)
Depois de muita negociação, foram definidas as trocas em cinco pastas: Governo, Comunicação, Comurg, Educação e Cultura. As três primeiras por interesse da cúpula do Republicanos e as duas últimas por vontade pessoal de Rogério Cruz, que tinha desavenças pessoais com os até então titulares. O primeiro anúncio foi a saída de Andrey Azeredo da Secretaria de Governo e a chegada de Arthur Bernardes, já sugerido por Wanderley.
Arthur Bernardes, nome forte do Republicanos do Distrito Federal, deixou o cargo de secretário de Governo da Prefeitura de Goiânia em fevereiro de 2022. A exoneração de Bernardes aconteceu após desgastes que ele acumulou com vereadores e outros secretários, sobretudo na crise gerada pela revisão do Código Tributário Municipal. O ex-auxiliar deixou uma carta junto com o pedido de exoneração. Com isso, o grupo de Wanderley se afastou definitivamente da Prefeitura de Goiânia.
Mesmo contrariado, a decisão do MDB era de se adaptar e acatar as mudanças. O partido considerava natural um maior espaço para o Republicanos, mesmo avaliando como precipitadas as mudanças com menos de dois meses da morte de Maguito, sem contar a preocupação com a chegada de nomes que não conheciam Goiânia.
A temperatura voltou a subir com o rompimento de acordos, alguns menores e outros maiores, e novas decisões cada vez mais precipitadas. Entre elas, a saída de Andrey, que ocorreria após ele assumir cargo em Brasília. O acordo não durou 24 horas. A substituição de Marcela Araújo na Secretaria de Administração, que não foi acordada em momento algum, também ajudou a tensionar ainda mais a relação.
Depois de diversas reuniões e consultas internas, Daniel Vilela decidiu colocar o rompimento em pauta com a decisão de Rogério Cruz de substituir também Zilma Campos Peixoto da presidência da Amma. A secretária era um dos símbolos do mandato exitoso de Iris Rezende. Além disso, estava claro que o partido Republicanos não estava disposto a acordos e continuaria a fazer mudanças.
Em Brasília, Tavares afirmou nesta sexta-feira (22) ao Blog ter deixado o grupo político do prefeito ainda em 2022.
ROGÉRIO CRUZ EM BAIXA
Já em 2023, Instituto de Pesquisas Veritá divulgou (07/08) uma pesquisa que analisou governos em todas as 27 unidades federativas, 26 capitais e mais de 300 municípios do país. A pesquisa, realizada entre os dias 7 e 28 de julho, entrevistou um total de 43.326 eleitores.
De acordo com os dados da pesquisa, apenas 32,1% dos entrevistados aprovaram a maneira como o prefeito Rogério Cruz vem administrando o município de Goiânia, enquanto uma expressiva maioria de 67,9% desaprovaram sua gestão. Esses resultados colocaram Rogério Cruz como o quarto prefeito menos aprovado entre as capitais do país, sendo Teresina a cidade cujo prefeito recebeu a maior desaprovação.
Outro fato que chamou atenção em Goiás, foi a declaração de Flávia Teles, viúva de Maguito Vilela, que havia sido eleito prefeito de Goiânia, e que morrera no dia 13 de janeiro de 2021, em decorrência de complicações da Covid-19. Ela publicou no Twitter carta em que diz que “o atual prefeito da cidade e que era vice da chapa, Rogério Cruz, não é digno da memória e do nome de Maguito.”
“Como já foi dito pelos verdadeiros amigos de Maguito que deixaram a Prefeitura recentemente, Rogério não representa mais o projeto que meu marido sonhou para Goiânia”, escreveu Flávia Teles.
Fontes ouvidas pelo Blog, afirmaram que Alisson Borges, por temer ser preso a qualquer momento, já estaria pensando propor uma delação premiada, já que sabe muito sobre os acordos firmados na Prefeitura e não estaria disposto a enfrentar a cadeia.
O fato é que a crise em Goiânia causou terremoto na política da cidade, cujas consequências poderão revelar bastidores nada republicanos.
O tempo dirá. Investigações prosseguem.