Do Correio Braziliense – OAB quer apurar conduta da polícia na investigação do crime da 113 Sul
Ordem dos Advogados do Brasil do DF pedirá ao Ministério Público que investigue a atuação dos policiais que trabalham na elucidação do triplo assassinato. Presidente da entidade diz que crise na instituição é gravíssima
A seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) vai pedir hoje ao Ministério Público do DF que apure a conduta de integrantes da Polícia Civil envolvidos na investigação do crime da 113 Sul. O presidente da entidade, Francisco Caputo, considera a crise na instituição gravíssima, assim como as denúncias apresentadas pela Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida) de que os investigadores da 8 ª Delegacia de Polícia (SIA) teriam oferecido vantagem financeira a um informante do caso.
Em depoimento à delegada Mabel de Faria, da Corvida, o informante — que não pode ter o nome revelado — afirma que a delegada-chefe da 8ª DP, Deborah Menezes, ofereceu dinheiro para que ele formalizasse a versão de que teria ouvido na prisão o filho do ex-porteiro Leonardo Alves dizer que o pai havia participado do triplo assassinato. A OAB-DF vai sugerir à procuradora-geral do MPDFT, Eunice Carvalhido, que escale um grupo de procuradores para acompanhar o desenrolar das investigações e a guerra entre os agentes. “Essa história está tomando contornos dramáticos. É uma guerra que causa muita perplexidade porque, em vez de elucidar o crime, descobrir se teve a participação de uma terceira pessoa, se houve ou não um mandante, fica um tentando desqualificar o outro”, ponderou Caputo.
Para o presidente da Ordem, a crise na Polícia Civil é preocupante porque a instituição perde a credibilidade, o respeito e a confiança. Também perde a sociedade, que, segundo ele, está pagando caro para uma delegada ficar brigando com outra. “A acusação da Mabel contra a Deborah é gravíssima. Acredito que a doutora Mabel não seja irresponsável. É preciso apurar até o fim se houve o beneficiamento do delator para que ele desse essa versão”, defende. “Esse assunto já foi longe demais para um assassinato ocorrido na área central de Brasília, onde moram diplomatas e vários ministros de Estado.”
O conselheiro nomeado pela OAB-DF para acompanhar as investigações, Eduardo Toledo, concluirá hoje um relatório sobre o caso. Ele passou o fim de semana analisando o material reunido pela 8ª DP, mas não quis adiantar suas impressões. “Antes de avaliar, não dá para falar nada. Mas vamos nos manifestar no fim do dia”, garantiu Toledo.
O Correio apurou que o governador Rogério Rosso (PMDB) convocará a cúpula da Polícia Civil para uma reunião, possivelmente hoje, para tratar do assunto. A assessoria de imprensa, no entanto, não informou o horário nem quem deve participar do encontro.
Montalvânia
A delegada Mabel Faria e agentes da Corvida viajaram na manhã de ontem para Montalvânia (MG), onde está preso Paulo Cardoso, acusado de participação do crime. Até o fechamento desta edição, no entanto, eles não haviam chegado ao destino. Dezessete quartos de um hotel da cidade foram reservados para a equipe da delegada.
Hoje, ela deve iniciar os trabalhos de investigação no muncípio. Além de ouvir Paulo, os agentes devem colher depoimentos de outras pessoas, como a testemunha que falou com exclusividade ao Correio que a filha dos Villela seria a mandante do crime e que Leonardo o teria chamado para participar do assassinato.
Colaborou Luiz Ribeiro
VERSÕES DISTINTAS
Noelle Oliveira
Leonardo (E) e Paulo confessaram o crime, mas alguns pontos divergem, como a ordem das três mortes |
Contradições e diferentes linhas de investigação marcam a história do triplo assassinato da 113 Sul. Tanto as três delegadas que participaram da investigação do caso — Martha Vargas, Mabel de Faria e Deborah Menezes — quanto os próprios assassinos confessos, Leonardo Campos Alves e Paulo Cardoso Santana, e demais informantes se perdem em versões desconexas e posteriormente desmentidas. Entre as discrepâncias, a falta de vestígios na cena do crime é um dos pontos que mais chama a atenção.
Desde o início das investigações, a polícia aponta problemas para detectar a presença de outras pessoas que não as vítimas no apartamento onde ocorreu a barbárie. De acordo com um memorando, enviado pelo Instituto de Identificação da Polícia Civil à Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) há aproximadamente um ano, foram coletados um total de 369 fragmentos de digitais em condições de confronto ou pesquisa no apartamento. Ainda segundo o documento, no momento da perícia “não foram observados indícios de limpeza” no local.
A versão contradiz o que a delegada Martha Vargas, a primeira a comandar o caso, quando era chefe da 1ª DP (Asa Sul), chegou a afirmar durante a investigação. Ela disse que após o crime o apartamento havia sido limpo por um profissional, tamanha a dificuldade de encontrar vestígios. Agora, apesar de o ex-porteiro Leonardo Alves ter afirmado em depoimento à 8ª DP, na última quarta-feira, que não se preocupou em apagar as suas impressões digitais da cena do crime, até o momento, os peritos não encontraram nenhuma prova que indicasse a presença dele no local.
O ex-porteiro do prédio dos Villela, Leonardo Alves, e seu sobrinho Paulo Cardoso, acusado de ser cúmplice no crime, também não se entendem quando o assunto é a dinâmica do triplo homicídio. Em relação aos depoimentos divergentes entre os assassinos confessos, fontes ouvidas pelo Correio, e que não participam da investigação, garantem ser naturais. Uma das contradições, por exemplo, é em relação a ordem das mortes. O laudo pericial aponta que a primeira a ser morta foi Maria Carvalho; em seguida o marido dela, José Guilherme; e, por último, a empregada Francisca.
Os presos, porém, confessaram ter matado primeiro o advogado, depois Maria Carvalho e, por último, a governanta. “Quem age sob forte emoção não se lembra quem matou primeiro ou por último, se levou a arma do crime ou se deixou no local. A pessoa fica abalada emocionalmente”, afirmou um delegado que pediu para ter o nome preservado.
Quanto à versão de que o apartamento foi limpo, uma das fontes ouvidas pela reportagem não acredita na tese porque a perícia teria encontrado vestígios de produtos químicos. Já outro policial tem convicção de que o apartamento foi limpo, não pelos assassinos, mas por pessoas que vasculharam o local em busca de alguma coisa ou objeto de valor. As duas fontes policiais concordam em um ponto. A Polícia Civil precisa descobrir se houve mesmo a participação de uma terceira pessoa no crime e quem é essa pessoa.
Laudo
Em 6 de novembro de 2009, a Polícia Civil do DF divulgou os resultados obtidos pelos peritos que investigaram o apartamento dos Villela. Segundo eles, ao menos dois criminosos esfaquearam cruelmente as três pessoas no imóvel na noite de 28 de agosto. Eles utilizaram duas facas, ambas diferentes daquelas encontradas com manchas de sangue na cozinha do local.