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    O PASSADO DE DILMA, SEGUNDO A DITADURA

    Sob tortura, presidente eleita confessou que grupo cometeu atentado a bomba

    Evandro Éboli e Jailton de Carvalho

    Liberados para consulta ontem pelo Superior Tribunal Militar (STM), os dezesseis volumes de documentos com páginas já amareladas e gastas que contam a história do processo movido pela ditadura militar contra a presidente eleita Dilma Rousseff descrevem a ex-militante como uma figura de expressão nos grupos em que atuou, que chefiou greves e “assessorou assaltos a bancos”, e nunca se arrependeu.

    Na denúncia oferecida pelo Ministério Público Militar contra os integrantes do grupo de esquerda VAR-Palmares, Dilma é chamada de “Joana D’Arc da subversão”.

    “É figura feminina de expressão tristemente notável”, escreveu o procurador responsável pela denúncia.

    O GLOBO teve acesso aos autos a partir de autorização do presidente do STM, ministro Carlos Alberto Marques.

    A decisão foi assinada no mesmo dia em que o plenário da corte liberou o acesso dos autos ao jornal “Folha de S.Paulo”, que antes da eleição tentara consultar o processo.

    Em depoimento à Justiça Militar, em 21 de outubro de 1970, Dilma contou ao juiz da 1ª Auditoria da 2 Circunscrição Judiciária Militar que foi seviciada quando esteve presa no Dops, em São Paulo.

    O auditor não perguntou quais tinham sido as sevícias. No interrogatório, Dilma explicou ao juiz porque aderiu à luta armada. O trecho do depoimento é este:

    “Que se declara marxista-leninista e, por isto mesmo, em função de uma análise da realidade brasileira, na qual constatou a existência de desequilíbrios regionais de renda, o que provoca a crescente miséria da maioria da população, ao lado da magnitude riqueza de uns poucos que detém o poder e impedem, através da repressão policial, da qual hoje a interroganda é vítima, todas as lutas de libertação e emancipação do povo brasileira. Dessa ditadura institucionalizada optou pelo caminho socialista”.

    Os arquivos trazem ainda cópia do depoimento que Dilma prestou em 1970 ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), delegacia em que ela ficou presa e foi torturada.

    No interrogatório realizado no dia 26 de fevereiro daquele ano, Dilma, sob intensa tortura, listou nomes de companheiros, indicou locais de reuniões, e admitiu que uma das organizações da qual fazia parte, o Colina, fez pelo menos três assaltos a banco e um atentado a bomba.

    Mas ressalvou que nem ela nem o então marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tiveram “participação ativa” nas ações.

    No interrogatório no Dops, Dilma contou que o atentado a bomba foi praticado na casa do interventor do Sindicato dos Metalúrgicos em Minas Gerais, e que atingiu também a casa do delegado Regional do Trabalho. As residências eram contíguas.

    Em um trecho do depoimento, Dilma disse que uma de suas funções em organizações de combate à ditadura era organizar células de militantes. Teria sido encarregada de distribuir dinheiro aos grupos. O dinheiro teria sido arrecadado em ações dos movimentos.

    Leia mais em O Globo

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