Deu em O Globo
O fim da picada
De Merval Pereira:
A renúncia de Paulo Octávio (foto acima) ao governo de Brasília está se delineando cada vez mais no horizonte sombrio da política da capital, podendo indicar que o governo do Distrito Federal até o final do mandato do governador preso José Roberto Arruda será exercido pelo representante do Poder Judiciário, o presidente do Tribunal de Justiça, numa sucessão desencontrada que dá a verdadeira dimensão da crise política que vive o Distrito Federal.
Mesmo com toda a crise, é improvável que o Supremo Tribunal Federal decrete a intervenção federal na capital. Sem o apoio de seu partido, o DEM, que deve iniciar o processo de expulsão na semana que vem, e sem ter sido recebido pelo presidente Lula, a quem pediria ajuda para continuar à frente do governo, o governador em exercício, Paulo Octávio, não tem sustentação política para permanecer no cargo.
Ele foi aconselhado a tentar montar uma equipe suprapartidária no governo, com notáveis do Distrito Federal, abrindo mão do apoio da aliança partidária que sustentava o governo de José Roberto Arruda, de quem era vice.
Mas Paulo Octávio, acusado também de participação nos esquemas de corrupção do governo anterior, e enfrentando também pedidos de impeachment, não tem mais nem prestígio político nem condições objetivas para dar essa guinada, ficando cada vez mais patente que a máquina política montada na capital do país está inteiramente contaminada.
Há indicações seguras de que ele chegou a sondar personalidades do mundo político, e não apenas de Brasília, para que assumissem o controle do governo, dando-lhe o respaldo político de que necessita, mas até o momento não encontrou quem se dispusesse a assumir o fardo.
Mesmo porque o tempo de governo é pequeno — dez meses — e a maior parte dos potenciais pretendentes se candidatará nas eleições de outubro.
O fato de o presidente Lula não ter recebido ontem o governador Paulo Octávio deve ser interpretado como mais um passo para a sua saída do cargo.
Lula não quer dar a impressão de que está envolvido em uma operação política para salvar Paulo Octávio, e quer que ele, segundo expressão de um assessor, “sofra um pouco”.
Seu sofrimento, por enquanto, é também o sofrimento do DEM, e isso é bom para os interesses políticos do governo.
Como se vê, depois de uma primeira reação cautelosa, quando chegou mesmo a lamentar a prisão de Arruda, o presidente Lula está utilizando a crise política do DEM de Brasília para fortalecer a posição do PT na disputa eleitoral da capital.
O timing político está contra Paulo Octávio, pois a tendência do DEM é não lhe dar mais tempo para demonstrar sua capacidade de atuação política. Leia mais em O Globo