Miguel Lucena
Resolveram esmagar a Polícia Civil do Distrito Federal. O plano é antigo. Antes, eram só murmúrios: “Não é possível que um policial ganhe mais que um professor!”, reclamava um político com voz de falsete. “Com esses salários, os melhores do país, eles conseguem frequentar os mesmos ambientes que nós. Isso é um perigo, vão ouvir nossas conversas”, cochichava o político-empresário-lobista.
As polícias de outros estados faziam fila na Academia de Polícia Civil para aprender nossas técnicas e descobrir o segredo de os policiais civis do DF ganharem tão bem.
Os policiais de outras corporações pararam de lutar pelos próprios salários para fazer figa contra os nossos, alimentados com a ideia de que é melhor todos morrerem afogados, mas em pé de igualdade.
As polícias dos estados foram à luta e conseguiram sua reestruturação. A PCDF ficou aguardando a recomposição da Polícia Federal, com a qual tinha uma paridade vencimental histórica.
O Governo Temer concedeu o reajuste da Federal, mas o Governo Rollemberg, no DF, aprisionado pelos segredos da Casa Militar, rateou na hora de assinar a recomposição da PCDF, propondo a concessão em parcelas, com a intenção de dificultar mesmo, o que não foi aceito pelos sindicatos da categoria.
O resultado é que, do Governo Dilma ao Governo Bolsonaro, passando pelos governos locais, de Agnelo a Ibaneis, a PCDF amarga uma perda salarial de mais de 60%, comprometendo a qualidade de vida dos policiais civis.
O que era o maior salário do país virou o 18º, atrás das polícias civis de Goiás e Piauí.
Ah, dirão os nossos eternos inimigos, eles ainda ganham bem em comparação com o povo! E assim nos tiram das quadras 300, mandam para as 100, as 200 e as 400, até chegar na Cobra Coral.
Vão nessa: foi pensando assim que vários estados passaram a ser dominados pelo crime organizado. Onde há polícia fraca, os bandidos são mais fortes.