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    NOBLAT EVITA COMENTAR SOBRE A NOTA EM SEU BLOG

    Após a repercussão de sua nota, em que anuncia o suposto pagamento de R$ 4 milhões a deputados distritais para evitar o impeachment do governador José Roberto Arruda, o jornalista e blogueiro Ricardo Noblat evitou falar no assunto. A Procuradoria do GDF entrará com processo contra o jornalista. Algum tempo atrás, Ricardo Noblat escreveu um texto muito interessante sobre o presidente Lula, ao mesmo tempo em que mostra como entrou para o surpreendente mundo dos blogs. Vale a pena ler:

    F…
     
    Do Jornalista Ricardo Noblat

    Aí pensei: o cara pirou. Só pode ser.

    Tudo bem que tenha se sentido ofendido pela reportagem do The New York Times sobre seu gosto por bebidas alcoólicas. Pega mal para um governante ser citado assim pelo jornal mais importante do mundo. Mas o presidente russo Boris Ieltsin também o fora. E na rede de televisão CNN protagonizara cena memorável dançando em um palco no centro de Moscou depois de ter bebido todas as vodkas possíveis.
    Daí a Lula determinar a expulsão do país do correspondente do jornal, Larry Rother, sinto muito, era um exagero. E também um evidente ato de arbítrio. Foi isso o que ele ouviu dos poucos assessores com alguma gota de coragem para enfrentar seu ataque de cólera. Um deles, durante reunião no gabinete de Lula do terceiro andar do Palácio do Planalto, sacara de um exemplar da Constituição e apontara o artigo que garantia o direito do jornalista de permanecer no Brasil.
    Então Lula cometeu a célebre frase que postei no meu blog às 15h16m do dia 12 de maio de 2004, poucas horas depois de ele ter sido pronunciada:
    – FODA-SE A CONSTITUIÇÃO!
    Um ministro ouviu a frase, reproduziu-a mais tarde para um dos seus assessores, e o assessor me telefonou contando.
    – Você está de porre – duvidei.
    Ele jurou que não estava. Eu sabia que ele não estava. E eu o conhecia o suficiente para saber que ele não inventava informação. Havíamos trabalhado juntos por alguns anos. Jornal algum publicaria que o presidente da República se referira à Constituição daquela forma – não naquela época. Nem revista. Emissoras de rádio e de televisão? Esqueça. São concessionárias de serviço público.
    Publiquei.
    Na dúvida sobre a veracidade de uma notícia, não publico.
    É duro proceder assim quando se imagina dispor de uma notícia exclusiva e importante. Sei que é tentador obedecer ao conselho cínico de um antigo jornalista norte-americano:
    – Não deixe que a verdade atrapalhe os fatos.
    Isso não quer dizer que jamais publiquei notícia infundada. É impossível fazer jornalismo sem errar.
    Na maioria das vezes contamos o que os outros nos contam. E por mais que chequemos o que nos foi contado não há como ficar imune ao erro. Aí temos obrigação de admiti-lo, pedir desculpas, refletir a respeito e tentar, em vão, não errar novamente. Na dúvida apenas sobre o tamanho da encrenca em que me meterei se publicar algo, publico. Afinal, notícia existe para quê? O jornalismo existe para satisfazer os aflitos e afligir os satisfeitos – e essa é uma sacada de outro coleguinha norte-americano. Desconheço sacada melhor para definir o jornalismo tal como o entendo. Por aqui, pelo menos, jornalista não ligava para blogs quando comecei a fazer o meu em março de 2004. Não sabia direito o que era um blog – eu também não. Nunca havia acessado um. Ouvira falar que era diário de adolescente. O meu era o único blog de notícias políticas com atualização diária. E não completara um mês de vida. O primeiro blog fora ao ar nos Estados Unidos em 1997. Pensei assim a respeito do que dissera Lula ao se referir à Constituição: “Ficará por isso mesmo. E se alguém me ligar do Palácio do Planalto desmentindo a notícia será a glória do blog. Postarei o desmentido e reafirmarei a veracidade da notícia”.
    O blog “aconteceu” pela primeira vez naquele dia.
    O post foi lido da tribuna do Senado por Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. E da tribuna da Câmara dos Deputados por José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL. Os dois manifestaram sua indignação com a boca suja de Lula, mas respeitaram o decoro e omitiram o palavrão. Impresso por algum assessor de parlamentar, o post virou panfleto dentro do Congresso. Esperei em vão o desmentido. À noite, o então deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), amiguinho de Lula de longa data, me telefonou e disse:
    – Olha, aquela história que você contou hoje não foi bem daquele jeito…
    – Foi de qual?
    – Bem, Lula estava reunido com alguns ministros e assessores discutindo o que fazer com o jornalista do The New York Times. Aí um assessor mostrou o artigo da Constituição que impede a expulsão do jornalista. E aí Lula disse: “Foda-se”. Ele mandou o assessor se foder, não a Constituição. Você sabe como Lula é meio desbocado. Mas foi isso.
    – Posso publicar o que você esta me contando?
    – Pode.
    – Posso lhe atribuir a informação?
    – Não. Pelo amor de Deus, a mim, não. Conte como coisa que você apurou…
    – Apurei outra coisa.

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    Deve ler

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