No DF, efeitos da interrupção de um governo
Após mudanças com saída de Arruda, capital federal tem descontinuidade de serviços em áreas como transporte e saúde
Fábio Fabrini
Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, 13h de ontem. Na volta do almoço, uma funcionária pública não sabe se sobe de escada ao décimo andar do prédio anexo, ou perde 20 minutos aguardando a vez de subir num dos dois elevadores disponíveis para 5 mil servidores.
Outros cinco quebraram mês passado e ainda não foram consertados. Desde então, para chegar a um dos 16 pavimentos, é preciso escolher entre a fila dobra-quarteirão e o sacrifício dos degraus.
Os elevadores do palácio são só um símbolo da situação administrativa na capital federal. Áreas fundamentais para o cidadão, como saúde, enfrentam desabastecimento.
No transporte, falta dinheiro para pagar o passe-livre dos estudantes. Obras prometidas pelo governo do DF estão paradas, atrasadas ou sem previsão de sair do papel, fruto da descontinuidade administrativa ou suspensas para que sejam apuradas irregularidades.
Em meio a tudo isso, funcionários públicos recebem ordens de quem não tem sequer cargo oficial. Há dez dias, a primeira-dama Karina Rosso, mulher do governador Rogério Rosso (PMDB), colocou-se à frente de um trator para impedir a agência de fiscalização do GDF de derrubar, por decisão judicial, o muro de uma empresa acusada de ocupar área pública.
Moradora do Lago Sul, região nobre de Brasília, Karina avisou que, antes de levar a operação adiante, os fiscais teriam de derrubar as “casas dos bacanas”. Conseguiu enquadrar a equipe, que deu prazo para que a empresa UTI Vida, alvo da fiscalização, prove que está regular ou se legalize.
Juntando os cacos do escândalo do mensalão do DEM, e ainda sob efeito de devassa em contratos de várias pastas, o governador Rosso, eleito para um mandato tampão, tem até dezembro para tentar repor a máquina nos trilhos. Ontem, estava em Paris. Entre um e outro compromisso, foi jantar com a Alstom, empresa que construirá o VLT, veículo de transporte previsto para a Copa de 2014.
O governo informa que o DF tem 1,7 mil obras em andamento ou no papel, planejadas por José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), preso pelo mensalão do DEM e que renunciou ao cargo. Mas não mostra balanço delas.
Algumas, como a estrada Samambaia-Ceilândia, foram paralisadas sob argumento de que o Tribunal de Contas do DF está analisando a licitação. O mesmo vale para construção de duas estações de ônibus em Santa Maria, que não saem do papel. Os coletivos estacionam em área improvisada entre entulho e
uma lingueta de esgoto.
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