Em dezembro do ano passado, o então Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal, Leonardo Bandarra, recebeu ÉPOCA para uma entrevista. Na ocasião, Bandarra era acusado de envolvimento em um esquema de corrupção. Na conversa, Bandarra afirmou que não havia provas contra ele – e, como muitos acusados em casos semelhantes, defendeu uma rigorosa apuração dos fatos.
Quase um ano depois, a investigação do Ministério Público Federal contraria as afirmações de Bandarra. ÉPOCA teve acesso com exclusividade à denúncia contra o agora ex-Procurador-Geral, e outras três pessoas, enviada ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Com base em depoimentos, quebras de sigilos telefônicos, cópias de e-mails e até gravações de vídeo, o MP reuniu fartas provas para acusar Bandarra de três crimes: violação de sigilo funcional, concussão (exigir dinheiro ou vantagem em razão da função que ocupa) e formação de quadrilha. Pede ainda que o ex-Procurador-Geral seja banido do serviço público. “(Bandarra) agiu com dolo intenso e premeditado, buscando com tenacidade e ousadia fora do comum o resultado delituoso”, afirma trecho da denúncia.
Segundo o documento, Bandarra e a promotora Deborah Guerner, também funcionária do Ministério Público de Brasília, teriam repassado informações sigilosas a Durval Barbosa em troca de dinheiro. Na ocasião, Durval era secretário de Arruda e integrante de um esquema de corrupção na área de informática. Mais tarde, Durval se tornou colaborador da Justiça e denunciou o esquema que resultou na queda de Arruda. Segundo Durval, Bandarra e Deborah teriam recebido cerca de R$ 1,6 milhão pelo serviço. “Resta patente que o denunciado Leonardo Bandarra, na condição de Procurador-Geral de Justiça, revelou fato de que tinha ciência em razão do cargo e que devia permanecer sob sigilo, utilizando-se, para tanto, do indispensável auxílio da promotora de Justiça Deborah Guerner para o investigado Durval Barbosa pudesse ter prévia ciência de que ocorreria uma busca e apreensão em sua residência”, afirmam os investigadores.
Entre as provas mais contundentes anexadas à denúncia está uma gravação do circuito interno de TV instalado na casa de Deborah Guerner. Apelidada entre os acusados de Rapunzel, Deborah Guerner espalhou câmeras por toda sua mansão e gravou tudo o que acontecia lá.
Entre as imagens captadas pelo sistema está a de um motociclista que chega à residência da promotora depois da meia-noite. A pessoa toma o cuidado de só retirar o capacete após entrar na residência, localizada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O personagem também teve o cuidado de desligar os celulares, retirar as baterias e conversar ao ouvido da anfitriã para evitar que seu diálogo fosse interceptado. Todos os cuidados de nada serviram porque o encontro foi registrado pelas câmeras da casa de Deborah e, depois, o material foi apreendido pela Polícia Federal num cofre enterrado no quintal. A perícia da Polícia Federal confirmou que o visitante era Bandarra.
De acordo com o MP, a reunião se deu para acertar detalhes do esquema. “Registre-se o singular, porém revelador, comportamento de Leonardo Bandarra que foi filmado diversas vezes, entrando e saindo da residência do casal Guerner, adotando atitudes e posturas estranhas e não condizentes com a do cargo que exercia à época”, afirma outro trecho da denúncia. Um das testemunhas ouvidas pelos procuradores da República que atuam no caso afirmou ter visto Bandarra na casa de Deborah pelo menos três vezes.
Depoimentos de colegas de Bandarra reforçaram a acusação do MP. O principal deles foi prestado pelo promotor Eduardo Gazzinelli. Responsável por investigação que tinha Durval como alvo, Gazzinelli afirmou que entregou apenas a Leonardo Bandarra uma minuta de um pedido à Justiça de busca e apreensão na casa do ex-secretário do governo Arruda. As informações contidas nessa minuta teriam chegado a Durval. A promotora Alessandra Queiroga, também colega de Bandarra, disse que houve uma reunião no Ministério Público do DF em que vários assessores do então procurador-geral manifestaram a ele insatisfação com a presença constante de Deborah Guerner naquele gabinete. Procurado nesta tarde por ÉPOCA, Leonardo Bandarra não foi localizado. Um assistente de Bandarra afirmou que ele tirou licença médica e só deve retornar na segunda quinzena de novembro.
O monitoramento eletrônico instalado na casa de Deborah Guerner também registrou a presença na mansão da promotora de importantes personagens da cena política brasiliense. Entre eles estão os ex-governadores José Roberto Arruda e Joaquim Roriz, o ex-vice-governador Paulo Octávio, o ex-secretário de Obras do DF Márcio Machado e também Durval Barbosa. Um das testemunhas do caso afirmou saber que Paulo Octávio “para lá se dirigia aos domingos”. Pelo visto, o MP ainda tem muito a investigar.
Fonte: Blog do Andre de Moura Soares