Maestro fora da orquestra
O regente Ira Levin — que recebia R$ 40 mil mensais de uma associação abastecida por emendas parlamentares apresentadas pela sogra, a distrital Eurides Brito — perdeu o vínculo com a Sinfônica do Teatro Nacional, mas continua a conduzir ensaios
Ira Levin não é mais o regente da Orquestra Sinfônica de Brasília. Com o cancelamento do convênio entre a Secretaria de Cultura e a Associação de Amigos Pró-Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, o vínculo entre o maestro e a orquestra foi interrompido. O problema é que Ira permanece conduzindo os ensaios e regendo concertos, mesmo a contragosto da maioria dos músicos que reivindica a saída definitiva do maestro. A permanência dele à frente da orquestra, segundo o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), configura uma ilegalidade. Como revelou o Correio em março,
Ira Levin recebia salário de R$ 40 mil da Associação de Amigos Pró-Orquestra. A entidade era abastecida com dinheiro de emendas parlamentares apresentadas pela distrital afastada Eurides Brito, uma das investigadas na Operação Caixa de Pandora. Ela é a sogra de Ira Levin.
Numa assembleia realizada na manhã de ontem, a Associação dos Músicos da orquestra (Amus-OSTCNS) decidiu elaborar um documento oficial em que pede o afastamento, de fato, de Ira Levin. Compareceram à reunião 40 músicos, 36 dos quais votaram pelo encerramento dos trabalhos do regente e quatro se manifestaram por sua permanência. Os músicos estão preocupados de a instituição ser associada a supostos esquemas de corrupção e não aceitam mais o comando de Levin. “Não há mais condições morais para ele continuar regendo até que os fatos sejam esclarecidos e seja provada a inocência do maestro”, diz Afonso Galvão, primeiro-secretário da Amus.
Não bastasse a reação da própria classe, no início da tarde de ontem, a vice-presidente da Comissão de Ética da Câmara Legislativa, Érika Kokay (PT), entrou com uma representação no Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) pedindo auditoria nos repasses feitos à Associação Pró-Amigos da Orquestra. A distrital também propõe que Ira Levin fique definitivamente à parte da rotina de concertos enquanto durarem as investigações. Em abril, a Comissão de Ética convocou Ira Levin e o músico Joaquim França para tratar sobre a relação entre a Secretaria de Cultura e a entidade que, desde 2007, recebe recursos públicos.
Na última segunda-feira, Joaquim França compareceu à Câmara e disse estar convicto de que, com orçamento reduzido e recursos limitados, a orquestra realizou mais entre 1999 e 2006, sob regência de Silvio Barbato, do que nos últimos quatro anos, quando esteve sob a batuta de Ira Levin. “Com orçamento que vinha só da Secretaria de Cultura, de mais ou menos R$ 30 mil por ano, a orquestra fez muito mais do que com a verba dessa associação”, garante França.
Em 25 de março, reportagem do Correio revelou que, de 2007 e 2010, a distrital afastada Eurides Brito destinou R$ 10,5 milhões em emendas parlamentares para a Associação de Amigos Pró-Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Desse valor, R$ 5,9 milhões foram liberados para a entidade considerada, por meio de um projeto de lei também de autoria da deputada, de utilidade pública. Entre outras atribuições da Associação, estava a de pagar o salário de R$ 40 mil ao maestro Ira Levin.
Fonte: Correio Braziliense