Estreante na Câmara Legislativa, a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) aos poucos começa a ocupar espaço dentro da Casa, principalmente como o nome de oposição ao governo de Agnelo Queiroz. Filha caçula do ex-governador Joaquim Roriz, a nova parlamentar já acena que vai driblar o estigma do sobrenome. “Quem continua com esse tipo de pensamento é porque não conheceu a verdadeira Liliane”, afirmou.
Edson Sombra
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O DISTRITAL – Como é ser deputada distrital após o maior escândalo que o DF já testemunhou?
LILIANE RORIZ: Apesar de nossa posse ter sido em janeiro, só abrimos oficialmente os trabalhos legislativos há poucos dias. Ainda não deu para sentir como vai ser, tudo é muito novo. Mas posso dizer que a Câmara já começou mal.
O DISTRITAL – Como assim?
LILIANE: Logo na primeira semana de trabalho não tivemos uma sessão oficial… Apenas sessões solenes e mais nada. Quando achávamos que a sessão iria abrir, ela logo foi encerrada. Talvez por ingerência, talvez por desinteresse. O fato é que eu e alguns colegas aguardávamos para participar das primeiras discussões, votações, e não houve oportunidade. Isso é muito ruim para a imagem da Casa.
O DISTRITAL – Os deputados Chico Leite (PT) e Celina Leão (PMN) protocolaram projeto que faz valer a contagem da presença dos distritais nas dependências da Câmara, e não só no plenário…
LILIANE: Realmente a nova Câmara é muito grande e ela ainda não está completamente em funcionamento. A ideia pode até ser uma boa. Mas o ideal seria que o parlamentar tivesse consciência de que, no horário da sessão, às 15h, a prioridade tem que ser o plenário, as votações… A não ser que haja alguma questão muito maior a ser resolvida.
O DISTRITAL – Isso pode causar desconforto na Câmara Legislativa?
LILIANE: Pouco me importa. Se os deputados que querem mudança não se unirem, essa inércia vai prevalecer e a Casa vai continuar sendo o que era, o que não é bom para a Câmara, tampouco para os distritais. Já aderi ao movimento de moralização da Casa e sou boa de briga.
O DISTRITAL – A senhora vem de um grupo que tradicionalmente é governo. Como é estrear na política logo na oposição?
LILIANE: Não faço oposição por fazer. Essa foi a estratégia do PT-DF para aparecer. Comigo é diferente. Fui eleita para defender o povo do Distrito Federal e não para criticar o governo. Não sou de levantar a voz à toa. Para mim, em qualquer briga política que aconteça, qualquer discussão, em toda a queda de braço entre governo e oposição é a população que precisa ser a vencedora. Não dá mais para ficar brigando simplesmente para impedir que algo de bom seja feito por nossa cidade só por ter partido de outro grupo. O pensamento dos políticos precisa evoluir.
O DISTRITAL – Mas o Agnelo conta com uma boa base na Câmara Legislativa…
LILIANE: Acredito muito que a vontade das urnas é soberana. Só que da mesma forma que o Agnelo foi eleito para governar, e que tantos outros foram eleitos para apoiar o novo governo, a vontade popular me elegeu para fiscalizar os atos do governador, do vice e de todo o governo. Oposição faz parte da democracia. Se eu ficar sozinha nessa luta, não tem o menor problema. Nunca tive medo de trabalho.
O DISTRITAL – Qual é a avaliação da senhora nesse primeiro mês de governo Agnelo?
LILIANE: Tudo está muito confuso. A gente percebe que eles estão muito perdidos no Buriti. Primeiro, divulgam a tabela de base do IPVA completamente desatualizada. Priorizaram a pressa para cobrar o cidadão e esqueceram de conferir se tudo estava correto. Na Câmara eu já pedi a suspensão dessa cobrança e o próprio Ministério Público pediu que a tabela fosse revista. E não é só isso: um dos primeiros atos do governo Agnelo foi contingenciar mais de R$ 1,5 bi do orçamento do DF. Só a saúde foi prejudicada em R$ 123 milhões. Tudo bem, é início de governo… Mas vou ficar atenta para saber até quando eles vão arrumar desculpas assim para justificar todos esses equívocos.
O DISTRITAL – Vai ser difícil aplaudir o êxito do governo Agnelo?
LILIANE: O ato de aplaudir, de jeito nenhum. Mas acho que vai ser difícil, sim, eles nos darem motivo para isso. E não sou eu quem está falando. É o que leio todos os dias nos jornais. Os professores, por exemplo, sempre tiveram afinidade política com o PT. Não todos, mas boa parte. A educação sempre foi defendida com unhas e dentes pela esquerda. Quando o Agnelo venceu, a primeira coisa que fez foi perseguir os professores. Demitiu diretores de escolas eleitos, nomeou pessoas mortas, disse que iria contratar 1,5 mil professores concursados e convocados, e depois recuou. Hoje deixam os professores no sol, não os recebem e quase não lembram que eles existem. O próprio senador Cristovam (Buarque), que ajudou a eleger o Agnelo, foi preterido pelo PT-DF. Se com os aliados eles fazem isso, imagina o que está por vir. O DF pode contar com a minha torcida para que tudo dê certo para a população, mas do jeito que começou essa gestão vai ser difícil eu ter motivo para aplaudir o governo Agnelo.
O DISTRITAL – É difícil conviver com o estigma de ser filha do ex-governador Joaquim Roriz?
LILIANE: Muita gente ama o meu pai, assim como tem outro tanto que não gosta dele. É normal. Querendo ou não, ele foi governador por quatro mandatos e é a maior liderança política do Distrito Federal. Encontro pessoas nas ruas que me abraçam, que me parabenizam por eu ter ingressado na política. Eu fico feliz com as manifestações, é claro, principalmente porque a decisão de entrar na política foi minha. Sou privilegiada por ter um meu pai como o meu, com a história de vida dele, além de ser um grande conselheiro, de todas as ocasiões. Um dos conselhos que ele tem me dado é que eu construa o meu nome, a minha história, com muito trabalho. Ter o sobrenome que tenho é uma grande responsabilidade. Mas quem me conhece sabe que eu nunca fiz nada na sombra de alguém. Sou administradora e acredito que todo resultado só acontece depois de muito trabalho. E é assim que vou guiar meu mandato.
O DISTRITAL – Há preconceito dentro da Câmara Legislativa?
LILIANE: No começo, senti que alguns colegas olhavam para mim como se eu não tivesse opinião, como se eu fosse apenas uma representante Roriz ali dentro. Hoje as coisas começaram a mudar. Mas tenho certeza que quem continua com esse tipo de pensamento é porque ainda não conheceu a verdadeira Liliane.
Fonte: O Distrital