Do Jornal de Brasília: Candidato a vice-governador da coligação Esperança Renovada, Jofran Frejat (PR) está convicto de qual será a sua missão caso a chapa saia vitoriosa nas eleições do próximo dia 31: o comando da área de saúde do DF. Médico-cirurgião, Frejat considera-se com credenciais de sobra para convencer a sociedade de que dará conta de sanar o caos que se verifica nessa área. Por essas razões, fala com desenvoltura e eloquência sobre temas como postos de saúde, policlínicas e valorização dos profissionais da área médica.
Nesta entrevista, Frejat detalha os bastidores da decisão que levou Weslian Roriz (PSC) a tornar-se a cabeça de chapa, em lugar do marido e critica os detratores do rorizismo, classificados por ele como uma elite que nunca aceitou o fato de o ex-governador ser um fazendeiro do interior de Goiás. O vice de Weslian também fez comentários sobre a polêmica da descriminalização do aborto, que já estava sendo explorada na disputa presidencial e que também respingou no DF.
“Estão tentando fazer com que o aborto se torne um método de controle da natalidade, mas se esquecem que essa é uma prática cruenta. Se passa a vigorar, vira bagunça”, comentou.
Como se deu a decisão de Weslian Roriz se tornar a candidata a governador da coligação Esperança Renovada, pois a impressão é de que o senhor se tornaria o candidato para encabeçar a chapa, com a renúncia de Joaquim Roriz?
O Roriz foi colocado numa situação difícil. Fizeram ele sangrar o tempo todo. No meu entendimento, o Supremo se omitiu e não existe uma força terrena acima do Supremo, mas nesse caso os ministros não cumpriram, naquela noite, com o seu papel. Daquela indefinição, ficou a impressão ao governador Roriz, madrugada afora, que a ficha tinha caído. Ele pensou: não vão me deixar ser candidato. A dona Weslian retrucou afirmando: Você vai ser candidato sim. Se você não for, eu vou ser. Aí recebi uma ligação às 6h da manhã. O Roriz chegou a brincar, você está acordado a essa hora? Eu respondi que sou cirurgião, cirurgião acorda cedo. Foi quando o governador me disse: eu conversei com a Weslian, ela me propôs isso. Você topa essa parada?
Como foi resolvida a situação de quem seria o vice?
A gente acertou que seguiríamos o rumo. A idéia era de a dona Weslian ser a candidata a vice. Mas eu sugeri que por causa da sensibilidade social que ela tem e por ser uma mulher muito dinâmica, era melhor eu continuar como candidato a vice. Era melhor que eu continuasse dando respaldo administrativo: fui secretário de saúde, quatro vezes deputado federal, ministro interino da Previdência, enfim, tudo isso me dá essa bagagem e a dona Weslian assumiria a condição de candidata a governadora. Nisso o Roriz disse: espera aí um pouco. Depois de algum tempo ele me telefonou e respondeu: a Weslian topou. Vamos trabalhar em cima disso. Depois ele chamou uma reunião de família e comunicou a todos os membros. Alguns choraram muito. Eu disse claramente: ela é uma mulher de coragem com condições de ir à linha de frente.
O grupo político da coligação aceitou tranquilamente a dona Weslian?
Houve alguns que disseram que talvez fosse melhor que eu fosse o candidato a governador. Mas sem nenhum embasamento. Acho que não teve peso e não foram convincentes. O fato é que mostrei que a dona Weslian é uma mulher de força.
O senhor, particularmente, está de fato seguro de que foi a decisão correta? Foi a melhor saída para buscar o voto dos eleitores?
O que a gente vê é o seguinte. Houve uma tentativa de diminuir o potencial dela, até porque ela foi a um primeiro debate e não foi tão feliz, o que já era esperado. Mas com o tempo isso muda. Veja os discursos dela agora. Ela já deslanchou. Está dizendo o que sente e isso é fundamental, não tem mentira. Queremos fazer um governo voltado para as pessoas simples. Essa é a nossa escolha, nos voltar para quem precisa de governo.
O seu partido, o PR, está coligado nacionalmente com o PT, de Dilma Rousseff. Não é uma contradição, o senhor compor a chapa de Roriz, que disputa com o petista Agnelo? Como foi essa aliança?
Quando tomamos essa decisão não foi de forma repentina. A razão pela qual fui convidado era porque a saúde se tornou a maior preocupação de Brasília. O convite tinha esse sentido, portanto, de resgatar o que a gente criou. É duro ver o quadro atual. Você sente como se fosse a sua própria carne.
Quando começaram essas conversas o PR já tinha se definido pela Dilma Roussef?
A direção nacional já estava rumando para o PT. Mas, apesar disso, sinalizou que eu podia aceitar e que não haveria nenhum problema. Disseram que já que era por esse objetivo de resgatar a saúde, eles concordavam.
O senhor será o secretário de Saúde de Weslian Roriz, caso ela seja eleita?
Eu tenho dito de modo geral que não é preciso que eu seja o secretário de Saúde, mas que tenha comando, porque, como eu criei a rede, sei onde estão os gargalos. Já fui secretário de Saúde e ministro da Previdência, que tem o terceiro maior orçamento do País. Portanto, nessa questão social, temos um conhecimento muito grande. O que também me incomoda é o fato de o governo Lula ter acabado com a aposentadoria integral. Nós precisamos resolver essa questão, pois a situação do aposentado no País é um escárnio. Embora estejam se movimentando, estão sempre apanhando. Pega o interior do Brasil, para ver quem movimenta a economia. São as aposentadorias.
De qualquer modo, o senhor é percebido como o homem da Saúde na chapa?
Eu criei a Faculdade de Medicina (a Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS). Tive a coragem. Esta aí entre as melhores do País. O que a gente pretende agora é fazer a universidade do Distrito Federal. Não se iluda, quando fizemos a faculdade, teve muita gente que foi contra alegando que Brasília ainda não tinha 100% de ensino fundamental. Se fosse pensar dessa forma, nenhum dos estados do país poderia ter faculdade.
A ESCS é considerada de excelência, mas por outro lado questiona-se que deslocar médicos para se tornarem professores desfalca a rede pública de saúde.
Não é fato. Primeiro que os médicos envolvidos que são contratados por 40 horas dedicam metade da carga, ou seja, 20 horas no ensino. Agora, como você vai abrir mão dessas pessoas, muitas delas com especialização no exterior? Você vai jogar fora esse conhecimento? Isso seria uma loucura, abdicar dessa possibilidade de transmissão do conhecimento.
Os postos de saúde terão prioridade numa gestão Weslian – Frejat ?
No nosso governo chegou a um ponto, quando regionalizamos a saúde que na média os grupos de 25 a 30 mil pessoas contavam com um centro de saúde, o que é importante para permitir que as pessoas tenham atendimento perto de suas casas. Para a distribuição de remédios vou fazer policlínicas. Está se falando atualmente muito em Upas (Unidades de Pronto Atendimento). A UPA, se não for colocada com unificação com o cento de saúde e com o hospital, vai ser a mesma coisa que o Samdu (Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência ), onde você não atende, mas despacha o paciente. O meu projeto é que toda cidade satélite deve ter uma policlínica, equipada com um setor de emergência, com serviço de ortopedia, para que seja uma etapa intermediária entre o centro de saúde e o hospital.
A coligação Um Novo Caminho acusa o seu grupo político de ter dado fim ao programa de saúde da família.
Quem fez o programa saúde da família foi o Ministério da Saúde. Ele foi aprovado em 1997. Esse programa se deu através de contratação do Instituto Candango, que foi validada no último dia do governo do Cristóvam. Quando entramos, nos deparamos com o problema dos contratos que expiravam em fevereiro.
Então o senhor está dizendo que havia problemas de legalidade no programa?
Trouxeram médicos cubanos, que não podiam, legalmente, trabalhar. Isso era um problema, gerou conflito, era algo que funcionava quase como um sistema paralelo. O que fizemos foi contratar outro pessoal.
Até que ponto o senhor considera válida a política da saúde preventiva, que é o mote desse programa?
Mostra disso são os agentes comunitários de saúde que foram criados por mim. A decisão foi de ter dez em cada centro. Assim, chegamos a 400 agentes. O Ceará copiou a idéia e depois o Ministério da Saúde implantou. Enfim, eu restituí o nome que o Ministério da Saúde deu, que era saúde em casa.
A proposta que o ex-governador Joaquim Roriz vinha fazendo sobre a Cidade da Saúde teve alguma mudança ou o conceito está mantido com a entrada de Weslian na chapa?
Gente, qual é a importância se o nome vai ser universidade da saúde, ou outro? O objetivo é formar um núcleo que integre universidade com hospitais especializados. É como aquele ditado chinês, não importa se o gato é branco ou é pardo, o que importa é que ele pegue o rato. Veja que o Rio de Janeiro e São Paulo têm os mesmos problemas que os nossos na área da saúde. A diferença é que contam com ilhas de excelência. Nós também precisamos delas aqui.
Por que a saúde pública do Distrito Federal tem dificuldade de contar com um quadro ideal de profissionais da área médica?
Hoje o médico ganha por 20 horas R$ 3,6 mil e, por 40 horas, R$ 7 mil. Um funcionário da CEB ganha R$ 10 mil. Precisamos rever esse sistema. Temos que restabelecer o mínimo de decência salarial para evitar o indivíduo mudar de emprego em emprego, sem com isso deixar a alma dele em lugar nenhum.
Que outra mudança estrutural o senhor pretende fazer se for eleito?
Um grande equivoco é a terceirização. Você acha que qualquer instituição vai cuidar de um hospital sem ganhar dinheiro? E essa fila virtual é uma brincadeira! Eu sei que São Paulo fez uma terceirização. Essa é uma regra para precarizar o serviço de saúde pública. Como as pessoas do setor privado não podem bater de frente com o SUS, começaram a comer pelas beiradas. A idéia é disseminar que o que é publico não presta mesmo, para daí convencer que é melhor entregar tudo para o setor privado.
A Ponte JK é maldosamente apelidada de Ponte dos Remédios, porque supostamente, o dinheiro para construí-la foi extraído da Saúde, na época que o senhor era o secretário da pasta.
No nosso orçamento não havia a inclusão dessa ordem coisa nenhuma. Foi a Fazenda que incluiu esse valor de R$ 40 milhões no orçamento da Saúde. Quando tomamos conhecimento, mandei um ofício para alterar.
E quanto aos comentários sobre o senhor ter extinguido a Fundação Hospitalar?
Na época, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) fez a proposta de extinguir a fundação, medida a que eu era contrário. Hoje talvez eu possa até rever essa posição. O governo entendeu que havia um gasto muito grande por causa do Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público), já que as fundações tinham perdido o direito de receber esses valores, em 1988.
Retornando a uma questão mais geral da política e da campanha eleitoral, o que o senhor tem a dizer sobre a visão de que Roriz e a coligação Esperança Renovada têm postura populista?
Começo perguntando sobre quantas favelas tinha Brasília? Tinha umas 64. Se não fosse a atitude do Roriz de criar essas novas cidades hoje estaríamos passando por situações iguais à do Morro do Bumba, no Rio de Janeiro. Agora note o que o Roriz fez. Vá até Samambaia, Santa Maria, Paranoá: nesses lugares você vê tudo funcionando, tem comércio, rua asfaltada, escola, as pessoas progredindo nas suas vidas. Então o que eu vejo são dois pesos e duas medidas, porque as pessoas propõem que lá no Rio de Janeiro sejam tomadas medidas de reurbanização? E porque aqui criticam o que foi feito?
A seu ver, existe um preconceito contra Roriz?
O fato de o Roriz ser um fazendeiro do interior de Goiás impede que ele seja aceito pela elite, que é quem o critica. É esse o raciocínio. É essa gente que nunca ajudou Brasília e acha que tem o direito de falar mal. São pessoas que não comeram poeira vermelha no início da cidade, como eu comi, que nunca sentiram a dificuldade da falta de ônibus.
Um tema que está em evidência na disputa eleitoral é a descriminalização do aborto. Em princípio, na condição de médico, o senhor deve ter muito a dizer a respeito.
As minhas coisas são muito claras. Fui presidente da Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados. Estava lá por 17 anos o projeto de descriminalização do aborto. Decidi botar em votação. Foi rejeitado por 36 votos a zero. O resultado disso foi que dois deputados do PT, o Bassuma e o Henrique, foram expulsos do partido. Sou médico, acho que a legislação atual é pertinente. Por ela, o aborto é permitido em duas situações: em caso de estupro e em caso de risco de vida da mãe. Para mim não é correto que um feto seja considerado um desafeto.
Isso quer dizer que o senhor é contra a prática do aborto?
Porque na verdade, estão tentando fazer com que o aborto se torne um método de controle da natalidade, mas se esquecem que essa é uma prática cruenta. Se passa a vigorar, vira bagunça. Não se está levando em conta a realidade a que estarão sujeitos os hospitais públicos. Porque no meu entender, se aprovar a descriminalização vai acontecer de pessoas com pouco conhecimento, em lugar de usar preservativo, passar a ver o hospital como forma de controle da natalidade. Isso é um engodo.