Deputado federal eleito e ele próprio alvo de acusações de deixar uma herança maldita, o ex-governador Rogério Rosso (foto) diz que nunca, em seus 46 anos de Brasília, assistiu a uma suspensão de serviços públicos essenciais tão dramática quanto agora. Também não viu um atraso de salários do funcionalismo nas dimensões que agora ocorre. Evita, porém, personalizar qualquer crítica. “Não vou recorrer à politicagem, à mesquinhez ou ao prejulgamento como fizeram conosco”, afirma. Só não deixa de dizer que “nessas circunstâncias, quem é atingido, mesmo, é a população, privada de serviços indispensáveis”.
Já foi um mantra
Embora não cite nomes, Rosso ouviu o governador Agnelo Queiroz condenar muitas vezes a herança que recebeu, em especial durante a campanha eleitoral deste ano. Não se surpreendeu. “Até pelo fato de não ter apoiado o governo eleito para minha sucessão, politicamente fui quase assassinado por quem chegava”, lembra. A herança maldita, diz, “parecia um mantra de parte da equipe entrante”.
Melhor do que recebeu
No entanto, garante o ex-governador, entregou o governo muito melhor do que tinha recebido. Rosso conta que, ao chegar, encontrou serviços e obras paralisados, além de um caixa zerado. Pior, enfrentava um pedido de intervenção federal que, à parte a perda de autonomia, trazia riscos para a população. Havia falta de medicamentos na rede pública de saúde e ameaça de greve generalizada nos transportes, pois as empresas de ônibus exigiam um reajuste no preço das passagens. Foi recusado.
Aposta no profissionalismo
Para enfrentar essa pressão, lembra Rosso, recorreu-se ao profissionalismo. “Como tenho a convicção de que o servidor público de carreira é preparado e tem história, foi a ele que recorri para compor o núcleo do governo”, conta, referindo-se a secretarias como Fazenda, Planejamento e Governo. A partir daí, reduziu despesas correntes, extinguiu órgãos como a Brasiliatur, repôs os estoques de medicamentos e acompanhou de perto os gastos para não ameaçar os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Conseguiu uma primeira vitória quando o Supremo Tribunal Federal rejeitou a intervenção, alegando que as medidas necessárias já haviam sido tomadas. Focou então na conclusão de obras selecionadas, como a EPTG, a UPA de Samambaia ou os viadutos na entrada do Gama,
Dinheiro em caixa
Ao terminar o governo, havia um superávit que Rosso calcula em R$ 1,2 bilhão e os serviços públicos funcionavam. O ex-governador admite que houve problemas no corte de grama. Entregou, sim, uma cidade com o mato alto — ainda que nem tanto quanto agora. Culpa por isso uma greve, segundo ele “política”, na Novacap, o que impediu a substituição de uma terceirizada falida. Herança por herança, a maldita não foi a dele.
Fonte: Eduardo Brito/Do Alto da Torre/Jornal de Brasília