Deu em O Globo
Governo blinda Dilma; oposição vai ao MP
Planalto e PT acertam estratégia para negar irregularidade e desvincular candidata de Erenice. DEM pede investigação
Cristiane Jungblut
A oposição decidiu acionar o Ministério Público para investigar o caso de suposto tráfico de influência envolvendo Israel Guerra, filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra — braço direito da ex-ministra e candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Já o Palácio do Planalto e o PT montaram uma “operação blindagem” em torno de Dilma, tentando separar a campanha da candidata do governo. A estratégia é desvincular Dilma de Erenice. E tentar colar o discurso de que não houve ilícito na conduta da atual ministra da Casa Civil.
O tom foi acertado em troca de telefonemas entre a candidata, a cúpula do PT e integrantes do Planalto desde sábado.
Segundo interlocutores do governo, o ministro de Comunicação de Governo, Franklin Martins, foi acionado para a elaboração da nota divulgada no sábado por Erenice, que estava em São Paulo. A ministra, segundo esses interlocutores, estava muito aborrecida com as acusações.
O presidente passou o fim de semana em Brasília, sem compromissos, mas foi informado o tempo todo. A própria Erenice apresentou explicações a colegas de governo e disse que seu sigilo e dos familiares estavam à disposição.
A estratégia foi mudando de sábado para ontem: primeiro, Dilma defendeu a amiga, e, ontem, disse que o assunto é do governo.
— Uma coisa é a campanha, outra coisa é o assunto — reforçou um comandante da campanha petista.
Mas a oposição vai insistir que há tráfico de influência envolvendo Erenice e seu filho, e até com responsabilidade de Dilma, que esteve à frente da Casa Civil quando Israel Guerra fez assessoria para empresas interessadas em contratos com o governo.
Para Paulo Bornhausen, líder do DEM, o presidente Lula está devendo explicações e deveria, pelo menos, afastar a ministra Erenice Guerra até o final das investigações.
— É a firma dentro do governo. Não precisa dizer mais nada. É um negócio complicado, e até agora o presidente Lula não se manifestou e, se ele não fizer isso, será sócio majoritário do problema. Vamos entrar no Ministério Público pedindo para investigar suspeitas de tráfico de influência e de corrupção dentro do Palácio do Planalto, envolvendo ministros da Casa Civil, porque Dilma Rousseff ainda era ministra — disse.
— Providências devem ser adotadas para que a investigação judiciária ocorra com celeridade. Nosso dever é cobrar — reforçou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
No PT, o discurso acertado com o presidente do partido, José Eduardo Dutra, foi o de que Dilma não tem qualquer envolvimento no caso e que cabe ao governo se pronunciar.
Apesar de seu filho Israel atuar como lobista de uma empresa e ter como sócia a mãe de um assessor da Casa Civil, os petistas dizem que Erenice não cometeu qualquer irregularidade ética ou administrativa. Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), a denúncia é vazia, com desmentidos dos envolvidos.
— A Erenice já fez a nota. E uma coisa é a empresa do filho, e ele não é funcionário do governo — disse Vaccarezza, afirmando que não há qualquer favorecimento.
— Nós do PT estamos em campanha, que cobrem (explicações) do governo — disse o secretário de Comunicação do PT, André Vargas (PR