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    Gerente alertou diretoria da Petrobras sobre fraudes antes da Lava Jato

    Venina Velosa da Fonseca foi ameaçada com arma e transferida para unidade da estatal na Ásia

    Do R7

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    Após aviso de Venina (foto), ex-diretor apontou para quadro de Lula e perguntou à gerente: você quer “derrubar todo mundo”?

    Dida Sampaio/28.03.2007/Estadão Conteúdo

    A diretoria da Petrobras recebeu diversos avisos a respeito das irregularidades nos contratos firmados entre a estatal e fornecedores, de onde vinha o dinheiro para o pagamento de propina a agentes públicos, antes do início da operação Lava Jato.

    Reportagem do jornal Valor Econômico desta sexta-feira (12) indica que Venina Velosa da Fonseca, gerente da Petrobras, começou a apresentar as denúncias quando era subordinada ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro. Como consequência, chegou a ser ameaçada com uma arma na cabeça.

    Segundo a gerente, depois de constatar as irregularidades, ela comunicou o substituto de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento, José Carlos Cosenza, e a presidente da empresa, Graça Foster. Venina ingressou na Petrobras em 1990 e foi subordinada a Paulo Roberto Costa entre novembro de 2005 e outubro de 2009.

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    Venina, que é geóloga, começou a suspeitar dos negócios fraudulentos da Petrobras em 2008, quando encontrou gastos muito acima do normal em contratos de pequenos serviços, chamados de ZPQES no jargão da estatal. Entre janeiro e novembro daquele ano, os custos com esses contratos chegaram a R$ 133 milhões — muito acima dos R$ 39 milhões previstos para 2008 inteiro.

    A gerente procurou, então, Paulo Roberto Costa para avisar sobre as irregularidades e recebeu uma resposta curiosa. Segundo o jornal, o então diretor de Abastecimento apontou o dedo para o retrato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pendurado na sala, e perguntou à gerente se ela queria “derrubar todo mundo”. Costa pediu que Venina procurasse Geovanne de Morais, diretor de comunicação que cuidava desses contratos.

    Venina, então, enviou o caso ao presidente da Petrobras da época, José Sergio Gabrielli, que mandou instaurar uma comissão para investigar o caso. Segundo o Valor, “o relatório da comissão apurou que foram pagos R$ 58 milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados. Além disso, foram identificadas notas fiscais com o mesmo número para diversos serviços, totalizando R$ 44 milhões”. Geovanne foi demitido da empresa.

    Transferência para a Ásia

    Depois de identificar as irregularidades nos pequenos contratos, Venina constatou uma escalada nos gastos da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Segundo o Valor, a gerente alertou que os contratos da refinaria continham cláusulas pelas quais a Petrobras assumia riscos por eventuais problemas e arcava com os gastos.

    De acordo com o jornal, um documento interno da Petrobras indica que Venina fez 107 SMPs (Solicitações de Modificações de Projetos), o que resultaria em uma economia de R$ 947,7 milhões. No entanto, as sugestões não foram aceitas.

    Venina se tornou, então, um problema e deixou o cargo de gerente de Paulo Roberto Costa em outubro de 2009. No mês seguinte, uma nova fase de construção de Abreu e Lima foi autorizada. Em fevereiro de 2010, a gerente da Petrobras foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em Cingapura e, chegando lá, foi enviada para um curso de especialização — não trabalhou.

    Em outubro de 2011, a gerente escreveu um e-mail para Graça Foster, que era diretora de Gás e Energia da Petrobras: “Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha […]. Diretores passam a se intitular e a agir como deuses e a tratar pessoas como animais. O que aconteceu dentro da Abast (Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo. Técnicos brigavam por formas novas de contratação, processos novos de monitoramento das obras, melhorias nos contratos e o que acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência”.

    Em 2012, a geóloga voltou ao Rio de Janeiro, mas ficou cinco meses parada, sem qualquer atribuição. Em seguida, voltou a Cingapura, onde chefiou a unidade da Petrobras no país. Lá, encontrou irregularidades também no comércio de combustível para navios. Em março e abril de 2014, Venina comunicou via e-mail o diretor Cosenza sobre as perdas financeiras em operações internacionais da estatal a partir do que constatou em Cingapura.

    Em maio deste ano, a gerente fez uma apresentação sobre as perdas envolvendo a comercialização de combustível fora do País. Venina propôs a criação de uma área de controle de perdas nos escritórios da empresa no exterior, mas nada foi feito.

    O último alerta de Venina foi feito em 17 de novembro deste ano, mas, dois dias depois, a direção da Petrobras afastou a geóloga. Em seguida, foi destituída do cargo. Venina, então, enviou um e-mail a Graça Foster dizendo que foi “ameaçada e assediada” e que “até arma na minha cabeça e ameças às minhas filhas eu tive”. Venina não deu mais detalhes sobre a ameaça com a arma, mas aconteceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Não levaram dinheiro, apenas a assustaram.

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