Em depoimento à Comissão de Segurança Pública do Senado, o ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Eduardo Tagliaferro afirmou que chegou a temer pela própria vida durante o período em que atuou junto a Alexandre de Moraes.
Tagliaferro, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostos crimes como ‘tentativa de golpe de Estado e violação de sigilo funcional’, contou que precisou demonstrar concordância com determinadas posições para se proteger e obter acesso a materiais de trabalho.
“Precisei em muitos momentos me fazer de um deles, de mostrar que eu estava inteirado, que eu estava empenhado no desejo dele, até mesmo para poder adquirir confiança e ter acesso a todo esse material”, disse o ex-assessor.
Ele explicou que a postura adotada foi estratégica, permitindo que, no futuro, pudesse relatar o que presenciou. “Talvez até teria minha vida ceifada” caso tivesse agido de outra forma, acrescentou Tagliaferro.
O ex-assessor afirmou ainda que está à disposição do Congresso para novas audiências, com a ressalva: “desde que eu esteja vivo”.
Como exemplo de situações que considerou abusivas, Tagliaferro citou um episódio envolvendo o advogado Cristiano Zanin, então representante de Lula, que teria sido hostilizado em um aeroporto.
Segundo ele, Moraes teria solicitado à Polícia Federal que identificasse o responsável pela ofensa, uma medida que Tagliaferro classificou como “um absurdo” e fora da competência do magistrado, já que Zanin não possuía foro privilegiado.
Durante o depoimento, Eduardo Tagliaferro também fez uma revelação que promete gerar forte repercussão. O ex-assessor afirmou que Moraes teria ordenado buscas e apreensões contra empresários de direita com base apenas em uma reportagem, e que a fundamentação jurídica do ato foi criada posteriormente, com data retroativa, levantando suspeitas de fraude processual.
Segundo Tagliaferro, após a publicação de uma matéria do portal Metrópoles em 17 de agosto de 2022, que divulgava supostas conversas entre empresários em um grupo de WhatsApp, Moraes determinou, no dia 23 de agosto, uma operação de busca e apreensão contra os envolvidos — entre eles, o bilionário Luciano Hang.
“O fundamento jurídico só foi criado posteriormente”, declarou o ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE. Ele exibiu à comissão documentos, planilhas e mensagens que, segundo ele, comprovam que o embasamento legal só foi incluído no processo no dia 27 de agosto, cinco dias após a operação.
Tagliaferro relatou ainda ter recebido ordem de um assessor de Moraes para criar um “ambiente, uma história” com data retroativa, a fim de justificar a ação judicial, prática que, segundo ele, viola o devido processo legal. Temendo represálias, o ex-assessor disse que chegou a esconder seu notebook com provas e dormir no carro.
As declarações provocaram reação imediata no Senado. O senador Magno Malta (PL-ES) pediu a prisão e o impeachment de Moraes, classificando-o como “marginal”, e se ofereceu para defender Tagliaferro.
A senadora Damares Alves (PL-DF) sugeriu encaminhar as denúncias ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, para tentar barrar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que presidiu a audiência, também se comprometeu a tomar providências sobre o caso. (Foto: reprodução redes sociais; Fonte: Cláudio Dantas)