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    Estudo do CEUB revela impacto do diagnóstico tardio do autismo em mulheres

     

    Diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para mitigar os desafios enfrentados por esse grupo

    Dificuldades em manter uma simples conversa, nas relações de amizade ou amorosos são alguns dos sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em mulheres. O diagnóstico, no entanto, pode vir de forma tardia devido às estratégias adotadas por essas pessoas para camuflar características do transtorno ou aos preconceitos de gênero. Pesquisa de Ana Paula Teixeira, egressa do curso de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB), mostra uma série de implicações sociais e emocionais advindas da identificação tardia do autismo, destacando a importância do processo de aceitação e do tratamento adequado para mitigar os desafios desse grupo de pacientes.
    As mulheres entre 18 e 40 anos com TEA entrevistadas descreveram vivências complicadas, crises depressivas, ansiedade e dificuldade intensa na socialização antes da descoberta. Apesar da conquista da autoaceitação após o diagnóstico, tiveram que enfrentar a falta de compreensão por parte das pessoas do convívio e da sociedade sobre o TEA. “Uma participante passou por situações constrangedoras ao utilizar atendimento prioritário em filas ou transporte público, devido ao preconceito e à falta de conhecimento sobre o transtorno”, cita a pesquisadora.
    De acordo com o estudo, existem padrões comuns nos relatos das mulheres sobre os prejuízos sociais enfrentados antes do diagnóstico de TEA. Além de sentirem grande dificuldade para socializar e pertencer a grupos sociais, foi mencionado o cansaço após períodos de interação social. Segundo Ana Paula, o estudo pode auxiliar na identificação e no tratamento de mulheres diagnosticadas tardiamente com o TEA, pois evidencia características do transtorno presentes no público adulto feminino e que, muitas vezes, passam despercebidas.
    A egressa do CEUB explica que as entrevistadas se sentiram aliviadas por finalmente se entenderem: “Elas relataram ter se conhecido melhor após o diagnóstico e aceitado suas particularidades em relação às demais pessoas, chamadas neurotípicas. Ao entender seus limites, aprenderam a lidar com as características do TEA”. Foi o caso de Thais (nome fictício), uma das participantes do estudo. A jovem de 26 anos diagnosticada com TEA em 2023 revelou que “se não tivesse recebido o diagnóstico, passaria a vida inteira procurando alguma coisa”.
    Identificação e tratamento eficaz
    O trabalho teve como metodologia a pesquisa qualitativa com análise de resultados de acordo com o método de análise de conteúdo. As respostas foram separadas em categorias presentes nas vivências das entrevistadas: aceitação do diagnóstico tardio e conhecimento de si, implicações nas relações sociais e na saúde mental, o TEA e questões referentes ao gênero. O aporte teórico psicanalítico contribuiu para a compreensão dos fenômenos observados após o diagnóstico tardio.
    Para Áurea Chagas Cerqueira, orientadora do projeto e professora do curso de Psicologia do CEUB, o diagnóstico tardio das mulheres é uma temática ainda pouco estudada. “Os resultados mostram a relevância de se aprofundarem os estudos, a fim de se propiciar diagnósticos cada vez mais precoces, o acompanhamento e tratamento adequado, para mitigar os desafios enfrentados por essas mulheres e garantir melhor qualidade de vida”, pondera.
    A psicóloga Ana Paula Teixeira projeta continuar estudos sobre o tema no mestrado. “A pesquisa chama atenção para a observação e tratamento de mulheres adultas com TEA, principalmente em relação a questões de saúde mental e dificuldades sociais”, conclui. A pesquisa evidencia ainda que o TEA não deve ser considerado um fator crucial, pois cada indivíduo é único e suas características vão além de qualquer rótulo.

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