Renato Santana tem alguma semelhança com Michel Temer?
Eduardo Cunha e Dilma Roussef, protagonizaram nos últimos 6 meses uma guerra política que culminou com o afastamento da presidente da república do cargo para responder o processo de Impeachment e com a inédita suspensão do mandato de deputado federal e consequente afastamento de Cunha da presidência da Câmara. …
Aliados por sobrevivência, no afã de escaparem um do outro, ambos esticaram demais a corda que os prendia. Burrice, empáfia, arrogância e soberba turvaram a nítida percepção de que a “corda” estava podre dos dois lados: pelo lado de Dilma, os mais de 70 pedidos de impeachment abarrotavam à Mesa da Câmara e de outro lado encorpava-se o processo de cassação de mandato contra Cunha no conselho de ética da Câmara dos Deputados.
Os estratagemas de lado a lado deram lugar a chantagem escancarada e os 3 votos petistas do Conselho de Ética da Câmara se tornaram “fiel da balança”. Dilma, por meio de seus interlocutores palacianos, garantia a Cunha os votos necessários para que sua cassação não prosperasse, ou melhor, fosse enterrada no Conselho de Ética, desde que o mesmo Cunha garantisse a rejeição de todos os pedidos de impeachmet protocolados contra Dilma.
A pressão das ruas contra o governo Dilma e contra a permanência do enrolado Cunha na presidência da Câmara, foi o combustível necessário para que os 3 deputados petistas membros do Conselho de Ética, afirmassem publicamente que votariam pela cassação de Cunha, tirando, portanto, a única moeda de troca de Dilma para pressionar Cunha a não acatar um dos pedidos de impeachment contra a presidente.
Cunha ainda deixou margem para um novo acordo, na medida em que restringiu o julgamento da admissibilidade do Impeachment pela Câmara apenas pelos atos da Presidente Dilma das pedaladas fiscais e da emissão de 6 decretos de crédito suplementar sem autorização do legislativo. De nada adiantou. Já era tarde para os dois.
Enquanto isso, no DF
No plano distrital, a história parece querer se repetir. Em que pese que a diferença dos personagens seja evidente, muitas de suas ações são de semelhanças preocupantes.
A presidente da CLDF, Celina Leão, exerce uma inconteste liderança sobre seus pares, conquistada pela capacidade de verbalizar, com firmeza e para o destino certo, o sentimento de cada parlamentar. Celina foi aliada de primeira hora do então candidato e hoje governador Rollemberg. Teve papel importante na eleição majoritária, obteve uma votação pessoal robusta, o que lhe credenciou a assumir a Presidência da Câmara.
Num determinado momento, parece que junto ao poder conquistado por Celina, a deputada teve reforçado o seu destemor para o enfretamento. Partiu para um embate frontal com Hélio Doyle, principal articulador, conselheiro e pensador do governo. Doyle nunca nutriu simpatia pelo estreitamento da relação executivo x legislativo. Tão claro, que na construção da formação da equipe do governo que se iniciava, ficou escancarada a intenção de se estabelecer uma distância regulamentar com o legislativo. Nenhum deputado distrital foi chamado para assumir uma secretaria. Um ou dois parlamentares tiveram a oportunidade de indicar algum nome. O tratamento desigual do executivo foi facilmente entendido como desprezo pelos deputados. O governador foi cobrado e um áudio da reunião com Presidente da Câmara e mais alguns deputados vazou para imprensa, no intuito de desmoralizar os queixosos. Doyle deixa o governo após o episódio do vazamento do áudio.
À época, muito se especulou sobre a saída de Doyle. Diziam que o próprio governador Rollemberg alimentava o embate entre a Presidente da Câmara e o Super-Secretário Doyle, justamente para provocar o desfecho ocorrido: a saída de Doyle. Não parece que seja verdade. Doyle saiu, mas nunca deixou de ser ouvido por Rollemberg.
Passados quase 1 ano e meio de governo, estranhamente Rollemberg não tem demonstrado pensar diferente de Doyle. Natural seria que o governador já tivesse encontrado a forma ideal de dialogar com a Câmara Distrital, tendo em vista ter construído sua trajetória política exclusivamente no legislativo. Perdeu o gosto, ou nunca teve?
Semelhanças que assustam
Dilma e Rollemberg
A crise econômica que atinge o país não poupa o Distrito Federal. Da mesma forma que o governo Dilma não reagiu, o governo local não consegue reagir. Mesmo com todo foco do noticiário voltado para a crise político-econômica nacional, a mídia local não teve, nem deveria, como não mostrar o DF empobrecido, sem segurança e com a saúde no estado de verdadeira calamidade pública.
O governador tem aparecido na mídia apenas para divulgar ações de pouca relevância diante dos inúmeros e graves problemas locais. Não há qualquer efeito premente e necessário na vida do brasiliense a ser alcançado pela Construção do “Muro” da Esplanada, pela regulamentação do Uber, pelas rodas de conversas, pelas derrubadas da Agefis, pelo caminho da tocha olímpica e por aí vai.
Ao abdicar, propositadamente ou não, de ir a público para debater o enfrentamento dos problemas emergenciais da população do DF, Rollemberg se distancia da realidade e corre o risco de se enfeitiçar pela ideia de que está governando bem, assemelhando-se cada vez mais ao mundo paralelo que a presidente Dilma fazia questão de viver. Envolta na maior crise política de todos os tempos, Dilma fazia questão de participar de solenidades diárias e repletas de uma claque comprada, que batia palmas e gritava para qualquer coisa de gemesse golpe. Achou que iria escapar. Não deu.
A falta de trato com os parlamentares e as inúmeras tentativas de intervenção no processo legislativo por parte das cabeças pensantes do Planalto, foram o combustível perfeito para incendiar as denúncias de pedaladas fiscais e decretos de crédito suplementar sem a devida autorização do Congresso. Não havia mais base política que se dispusesse a defender o Governo e a Presidente. Dilma não conseguiu o “perdão” dos deputados que tanto tratou mal.
A falta de trato com os Distritais e as inúmeras tentativas de intervir no processo legislativo local, em especial na tentativa de cooptar votos contrários a reeleição da mesa diretora da Câmara, poderá ser o combustível que inflame as denúncias de supostas “pedaladas” com o dinheiro do IPREV, acarretando, portanto, um eventual pedido de impeachment do Governador Rollemberg.
Celina e Cunha
Ao assumir a Presidência da Câmara dos Deputados, Cunha usou do peso do cargo e do conhecimento minucioso do Regimento da Casa para fazer prevalecer seus interesses pessoais e dos grupos que representa perante o poder Executivo. Craque dos bastidores da política, intelectualmente diferenciado, educado, frio, corajoso e audacioso, Cunha governou o governo Dilma, desde 1º. de fevereiro de 2015.
Celina tem direito aos mesmos adjetivos elogiosos que faço a Cunha. Entretanto, paro por aí nas semelhanças. Claro que a frieza demonstrada por Cunha, em nada se aproxima do temperamento “caliente” da deputada Leão, que não a toa faz jus ao sobrenome.
Seria de cruel leviandade e irresponsabilidade, dizer que a Presidente Celina teria alguma pretensão ou motivação para tentar governar o governo, no entanto, sua rápida e bem construída ascensão política, elevou intimamente e de forma desmedida, a já alta dimensão institucional que orbita. Nesse contexto, não seria descabido imaginar que também houve o comprometimento da sua percepção do aproximar-se de aproveitadores sem qualquer compromisso ou preocupação em preservar reputações.
Repito, as semelhanças de Celina com Cunha param nas qualidades elencadas, no entanto, a frieza que sobra em Cunha e que falta em Celina, os aproxima e parece motivar suas ações. Ao ser contrariada na matéria da reeleição da Mesa, a presidente da Câmara Legislativa tratou de instalar a CPI da Saúde. Apesar de pertinente, não há como não entender o gesto como a mais simples retaliação. Agiu com a mesma motivação de vingança que Eduardo Cunha acatou o pedido de Impeachment de Dilma, que também era pertinente e necessário.
O desfecho do episódio da crise política protagonizada por Dilma Roussef e Eduardo Cunha foi trágico, porém trouxe a renovação da fé do povo brasileiro numa saída digna para a atual situação nacional.
O povo do Distrito Federal também carece ter sua fé renovada nos seus políticos e na melhoria da prestação dos serviços públicos, só não precisa de tanta semelhança.
A propósito, Renato Santana tem alguma semelhança com Michel Temer?
Por João Zisman