As regiões Sul e Sudeste do Brasil concentram as maiores áreas de maior suscetibilidade a deslizamentos, por serem regiões serranas ou planálticas edificadas em terrenos geológicos de grande mobilidade e fragilidade crustal. É o que afirma o especialista em infraestrutura e logística, Paulo César Alves Rocha, com mais de 50 anos de experiência. Para ele, sem um plano preventivo, o Brasil seguirá assistindo enchentes, deslizamentos, entre outros trágicos episódios.
O recente episódio dos deslizamentos provocados pela forte chuva em Petrópolis-RJ ascendeu o debate sobre as ações dos Governos Federal e estaduais para prevenir tragédias naturais. O especialista em engenharia de infraestrutura e logística, Paulo César Alves Rocha, explica que o período de chuvas no Brasil é cíclico e que é totalmente possível a elaboração de um planejamento preventivo para desastres naturais.
“As chuvas mais intensas existem em ciclos de anos. Usualmente temos chuvas de cinco em cinco anos, vinte em vinte e assim por diante. Com as mudanças climáticas que estamos vivendo, estes ciclos estão se tornando cada vez mais curtos. Estamos convivendo com chuvas que chegam a 200mm por dia em certos locais, o que é um número que por vezes se aproxima do esperado para um mês”, explica Paulo César Alves Rocha.
O especialista afirma que as chuvas estão mais intensas devido a fatores climáticos, como o aquecimento do Oceano Pacífico, conhecido como La Niña ou do Oceano Atlântico conhecido por El Niño. Também pondera que o desmatamento da Floresta Amazônica está retirando um “freio natural” às correntes que vem o Oceano Atlântico, batem na Cordilheira dos Andes e retornam ao Brasil pelos chamados “rios voadores”.
“A derrubada quase que total da Mata Atlantica e os danos causados ao Cerrado e ao Pantanal também contribuem para acelerar os ventos e chuvas. Assim as chuvas mais intensas podem ser consideradas normais pelos ciclos de anos, mas estão turbinadas por outros fatores. A prevenção dos danos causadas por elas, servem tanto para as chuvas anormais dos ciclos de anos quanto para as chuvas de todo ano. É preciso elaborar planos preventivos urgentemente”, afirma.
Com relação as etapas para elaboração de um planejamento preventivo, Paulo César Alves Rocha destaca os seguintes pontos: “Planejamento do uso do solo, tanto nas áreas agrícolas quanto nas urbanas. Nas áreas agrícolas além de se evitar o desmatamento, se este for absolutamente necessário, proteger as nascentes naturais de água, reservar parte da área para ter árvores, deixar vegetação nas margens de rios e córregos, efetuar as plantações ao longo das linhas de nível do solo, nunca efetuar plantações na linha perpendicular às encostas que causam erosão ou voçorocas, utilizar no pasto de gado plantas que guardem água de chuvas e protejam o solo de erosões, evitar quaisquer tipos de queimadas, utilizar a parte vegetal não colhida para proteger o solo”.
Planejamento Urbano
É preciso atenção permanente às áreas de encostas e às dinâmicas urbanas. O especialista defende que: “nas áreas urbanas nunca construir em margens de rios e canais, em áreas sujeitas a alagamentos anuais, em encostas ou perto delas. Ter sempre em mente que a retirada de árvores e o tipo de vegetação, assim como a urbanização, causam a perda da impermeabilidade do solo, fazendo com que este absorva menos aguas das chuvas e consequentemente escorram mais a procura de canalizações, canais e rios”.
Rocha defende que seja realizada uma ampla análise de riscos pelo Governo Federal dividindo o país por grandes bacias hidrográficas e subdividindo-as até os rios menores. Também promover campanhas educativas e ações efetivas para a que o lixo e demais detritos sejam reciclados ou depositados em locais corretos evitando-se assim que obstruam redes de canalizações, canais e rios.
“Ampliar esta análise para as tubulações que atravessam estradas, para rios e canais das áreas urbanas, para todas as pontes com a finalidade de verificar se o vão útil embaixo delas comporta a vazão máxima dos rios na época das maiores chuvas. Realizar uma ampla investigação dos níveis de assoreamento das redes de canalizações, canais, pequenos rios, grandes rios e represas, com a finalidade de averiguar a situação real da vazão ou capacidade de armazenamento de água”, explica.
O serviço de limpeza e conservação urbana também pode ajudar. “É preciso verificar com base na análise de riscos, o dimensionamento das redes de águas e calha real dos canais e rios. Corrigir ou planejar a correção dos casos de subdimensionamento. É preciso efetuar a limpeza periódica de redes de águas servidas/pluviais e canais e rios. Também executar obras, com base na análise de riscos, que mitiguem as inundações de áreas em que se torne inviável a remoção de construções”.
*Paulo César Alves Rocha é especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior com mais de 50 anos de experiência em infraestrutura, transportes, logística, inovação, políticas públicas de habitação, saneamento e comércio exterior brasileiro. Mestre em Economía y Finanzas Internacionales y Comércio Exterior e pós-graduado em Comércio Internacional pela Universidade de Barcelona. É mestre em Engenharia de Transportes (Planejamento Estratégico, Engenharia e Logística) pela COPPE-UFRJ. Pósgraduado em Engenharia de Transportes pela UFRJ e graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal Fluminense. Tem diversos livros editados nas Edições Aduaneiras. |