Ex-secretária de Estado disse também que atual governador da Paraíba pediu favorecimentos a nora, genro e cunhada
O governador João Azevêdo (sem partido) foi citado por Livânia Farias, investigada na Operação Calvário, em acordo de delação premiada. Em novo trecho do depoimento, divulgado nesta segunda-feira (13) pelo Metrópole Estadão, a ex-secretária de Estado diz que propinas pagas pela Cruz Vermelha do Brasil ajudaram a custear despesas de João Azevêdo a partir de abril de 2018, período em que ele se afastou da Secretaria de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente para concorrer às eleições estaduais. Os repasses teriam se estendido até o mês de julho, totalizando cerca de R$ 480 mil.
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Segundo Livânia Farias, o então chefe do Executivo estadual, Ricardo Coutinho, a procurou e pediu que fosse providenciado um valor a ser repassado a João Azevêdo. A quantia, de acordo com ele, serviria para o custeio de despesas. “Ele ia andar o estado todo [em campanha] e, como não era secretário e não tinha salário, teria que se fazer com que ele se sustentasse”, contou Livânia.
Ainda conforme a ex-secretária de Finanças, ficou acertado R$ 120 mil mensais. “Eu disse a ele [Ricardo] que esse dinheiro só tinha como sair da Cruz Vermelha”, completou. Livânia Farias informou que Ricardo a orientou a falar com João Azevêdo para saber a quem o dinheiro deveria ser entregue.
“Passaram-se alguns dias, encontrei com João e disse que o problema dele já tinha sido resolvido. Aí ele disse: então você fala com Deusdete Queiroga, que era secretário executivo e passou a ser secretário quando João saiu [para campanha]”.
A entrega do dinheiro a Deusdete Queiroga era feita, segundo Livânia, por Leandro Nunes, na época, seu assessor. Deusdete Queiroga foi mantido no cargo de secretário de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente pelo governo de João Azevêdo.
Pagamentos a parentes de João Azevêdo
João Azevêdo pediu, em reunião no Canal 40, que uma nora e uma cunhada fossem exoneradas dos cargos que ocupavam, respectivamente, na Agevisa e Sudema. Conforme Livânia, o atual governador temia insinuações de nepotismo durante sua campanha.
“Ele disse que elas precisavam ser exoneradas, mas que elas duas não podiam ficar sem salários. E ficou acordado entre eu e ele de que o que elas recebiam, o valor bruto, seria repassado para ele”, disse Livânia.
Segundo a ex-secretária, o salário da nora de João era R$ 6.000 e o da cunhada era de R$ 3.800. “Eu separava esse dinheiro esse dinheiro, colocava num envelope e entregava a ele. Eu, pessoalmente, entreguei a ele uma vez. Nas outras vezes, quem entregava era Laura [ex-assessora de Livânia Farias]”, detalhou.
De acordo com Livânia, os valores foram pagos de agosto até novembro de 2018.
Articulação de novo emprego
Numa reunião posterior, já durante o período de transição de governos, João Azevêdo teria exigido um novo emprego para nora e cunhada. Livânia Farias disse ter sugerido então que elas fossem postas na organização social responsável por gerenciar Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), pois o contrato estava se encerrando e um processo de novas convocações aconteceria em breve.
A proposta da ex-secretária era de que a nora do governador eleito assumisse o cargo de superintendente, cujo salário girava em torno de R$ 14 mil. Quanto a cunhada, a colocação seria em cargo relacionado a recursos humanos. “Ele concordou”, cravou Livânia.
Pedido de favorecimento a genro
Ainda conforme Livânia Farias, João Azevêdo pediu que ela conversasse com o então secretário de Segurança Pública, Cláudio Lima, na intenção de reverter a decisão de um processo administrativo pela demissão de seu genro. Livânia conta que, segundo João, o genro dele, que era servidor do Instituto de Polícia Científica (IPC) em Campina Grande foi acusado de abandono de emprego, mas estaria à disposição da Secretária de Saúde. Este fato, segundo João, não havia sido esclarecido no processo.
“Ele pediu para que eu falasse com o secretário de Segurança Pública para saber o que poderia ser feito. E Cláudio foi muito duro, disse que não se metia nisso, que ele não tinha interesse em resolver isso. Foi muito grosso e muito curto. Ele disse: não quero saber disso. Então voltei pra ele [João] e disse: Cláudio falou que não ia resolver. E ele disse: pode deixar, eu resolvo de outro jeito“, disse Livânia.
Cláudio Lima não foi mantido no quadro de secretariado após a posse de João Azevêdo como governador.