Em Lula I, a centralidade do PT é expressiva nas relatorias da CCJC. O partido possui 1.8 vezes mais relatores que o PP — segundo partido mais central. Em Lula II, o PT perde centralidade em favor do MDB, recém-chegado à coalizão, e do PR, aliado formal do governo desde sua fundação. Tal qual no primeiro mandato de FHC, as relatorias estão preponderantemente nas mãos da coalizão governamental.
Com padrão bastante semelhante ao governo Lula I, o primeiro mandato de Dilma concentra relatorias majoritariamente no partido da presidente e, em seguida, em partidos aliados (PMDB e PP). Em Dilma II, há mudança de cenário. Com o isolamento do PT após eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, os relatores da CCJC estiveram concentrados em partidos oposicionistas ou mais à direita da coalizão. O DEM relata 3.5 vezes mais projetos que o PT, evidenciando dificuldades no controle da comissão por parte da base governista.
No Governo Temer, os partidos mais centrais foram DEM e PP, ambos fiéis ao governo, seguidos pelo MDB do presidente. A designação de relatores segue padrão semelhante ao observado em FHC I e II e Lula II — relatorias concentradas na base governista, mas dispersas em partidos diferentes.
Por fim, no mandato Bolsonaro há retomada e aprofundamento do padrão observado em Lula I e Dilma I. Até outubro de 2019, a CCJC distribuiu proporcionalmente mais relatorias a deputados filiados ao partido do presidente do que em qualquer outro mandato (46%). O PSL teve 2.7 vezes mais relatores que o DEM, segundo partido central, e 4 vezes mais que o PDT, único partido não alinhado às preferências governamentais que figura entre as 5 agremiações com mais relatorias. Além da concentração no partido do presidente, verifica-se um isolamento sem precedentes dos partidos oposicionistas na comissão.
Relativos aos últimos 24 anos, os dados revelam forte controle governamental de uma das atividades de maior importância na CCJC — a definição do relator, com destaque maior ou menor para partidos do presidente ou de sua coalizão e espaço maior ou menor para a oposição. A exceção fica por conta do governo Dilma II, quando o PT perde o controle da base governista na Câmara logo no início do mandato. Uma eventual saída de Bolsonaro do PSL pode provocar mudanças na distribuição de poder atual da comissão, mas é pouco provável que o cenário se modifique radicalmente no curto prazo.
1 A quantidade de vagas da CCJC na Câmara, diferentemente do Senado, não está fixada no regimento. É definida no início de cada sessão legislativa em função do número de comissões permanentes, respeitados o tamanho da bancada dos partidos e a indicação nominal dos líderes partidários. A designação de relatorias, portanto, é uma escolha que se faz em universo de partidos proporcionalmente representados.
2 A diferença entre o número de relatores e de proposições legislativas deve-se ao fato de que a CCJC, em determinados assuntos, emite parecer sobre admissibilidade mas também sobre mérito da proposição.