Nenhum outro personagem era tão ameaçador à ditadura quanto Juscelino. Apesar de todas as tentativas de sujar a imagem do presidente Bossa Nova diante da população, ele continuava sendo um natural e bem-sucedido candidato à Presidência da República. Enquanto isso, a Operação Condor dava prosseguimento às ações criminosas que pretendiam retirar de cena todos os opositores das ditaduras latino-americanas. Era o que se descobriria depois.
Na audiência dessa terça-feira, o então secretário particular de Juscelino, Serafim Melo Jardim, voltou a repetir o que vem dizendo desde a morte do chefe. JK tinha certeza que estava sendo vigiado e que a intenção era matá-lo. Jardim lembrou que havia um fragmento metálico de sete milímetros no crânio do motorista de Juscelino, indício de que ele poderia ter sido atingido por um tiro. Mas não foi feita radiografia no corpo de Geraldo Ribeiro.
O advogado Paulo Castelo Branco, também ouvido pela Comissão, lembrou que as fotos dos corpos foram retiradas do processo, a mando do então diretor do Departamento Técnico-Científico da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. A justificativa era a de que se precisava preservar a imagem do presidente.
Passageiro do ônibus que teria batido no carro do presidente, o advogado Paulo Oliver desmentiu a versão oficial: “Tenho certeza absoluta de que não houve batida (no ônibus)”. Oliver disse ter ouvido um barulho e visto um claro que cruzou a pista e bateu em um caminhão.
A versão de acidente é reforçada pelas características da Via Dutra no local do acidente, o quilômetro 165, sentido São Paulo/Rio. Nele, há uma curva longa e fechada, muito conhecida à época e até hoje pelo número de acidentes que nela acontecem. Antes denominada Curva da Brisa, pelo excesso de vento, passou a se chamar Curva de Juscelino.
A notícia da morte de JK chegou às redações de Brasília 13 dias antes de o presidente morrer. Repórteres foram mobilizados para investigar a veracidade do boato. Correram à fazenda do presidente em Luziânia de quem ouviram, entre sorrisos: “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram”. No espaço de poucos meses, as principais lideranças políticas adversárias do regime militar morreram aparentemente de morte natural: Carlos Lacerda, internado com uma forte gripe, não resistiu a uma injeção; João Goulart teria tido um infarto, circunstância que agora também está sendo investigada.
A Curva de Juscelino ganhou sinalização, mas continua perigosa.