artigo 2012
Nós, brasileiros, estamos eufóricos por sediarmos a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Mas não estamos atentos para o fato de que, em 2012, o Rio sediará o maior evento político deste início de século, a RIO +20, seguimento da grande cúpula de 1992. Chefes de Estado e de Governo do mundo todo se reunirão para debater o futuro da humanidade. Será um evento de consequências muito maiores do que foi Copenhague, no ano passado, e será o México, no próximo ano. Quando aconteceu a ECO-92, o mundo não consciência da dimensão da crise ecológica: reinava uma euforia econômica no mundo capitalista, com o fim do império soviético e o crescimento propiciado pelo neoliberalismo. A reunião ia contra a corrente. Em 2012, o mundo se reúne empobrecido pelos efeitos da crise econômica de 2008, indignado com o fracasso do sistema financeiro, convencido de que o liberalismo não é capaz de administrar a economia e, sobretudo, assustado diante do risco da destruição ecológica. A RIO +20 será um momento especial para o futuro da humanidade, e a cidade pode ser o ponto de partida para um novo rumo civilizatório. Por isso, como país sede da reunião, devemos incentivar propostas que orientem o debate, apresentar rumos, conduzir negociações, formular um projeto alternativo para desenvolvimento no mundo. Muitas pessoas pelo mundo já pensam nisso, mas não vemos no Brasil um movimento nesse sentido. Estamos presos à euforia da Copa e das Olimpíadas: os governos só pensam em eventos esportivos, os intelectuais não parecem ligados, os políticos da oposição e da situação não falam no assunto, os candidatos à Presidência talvez nem tenham tomado conhecimento da cúpula. O professor Ignacy Sachs, que esteve em Estocolmo em 1972, e no Rio em 1992, é um dos que se entusiasmam com a ocasião e propõe alternativas para o futuro. Segundo ele, na RIO +20, os chefes de Estado e de Governo podem formular uma linha de ação para reorientar o projeto de desenvolvimento de todo o mundo. Presidentes e Primeiros-ministros podem definir como o mundo trocará o alto consumo energético, com combustível fóssil, pelo menor uso de energia, com base em combustíveis renováveis. O caminho seria uma política fiscal que penalize o consumo de petróleo e gás e incentive fontes alternativas de energia. Com os recursos originários dessa política fiscal mundial, será possível criar um Fundo para gerar empregos e abolir a pobreza. A produção de combustíveis e energias alternativas pode criar mais empregos podem do que a indústria petrolífera. As soluções deverão ser locais, mas orientadas por regras ético-jurídicas internacionais, definidas a partir da RIO +20, para que o desenvolvimento entre em um novo rumo. Além disso, os governantes podem refazer, no século XXI, o que já foi feito após a II Guerra. Naquele momento, era preciso reconstruir a economia destroçada; agora é preciso enfrentar a destruição ambiental, a desigualdade social crescente e a ineficiência do sistema econômico e social. No lugar do Plano Marshall pós-guerra, o mundo precisa fazer uma revolução de mentalidade que reoriente os propósitos civilizatórios e os padrões de consumo e de energia, para assegurar igualdade de oportunidades a todos os habitantes do planeta. A garantia de uma escola de qualidade para toda criança – não importando a nacionalidade, a renda dos pais, o PIB do país, com conteúdo libertário, que respeite todas as culturas, e garanta conhecimento eficiente para produzir e obter emprego –permitirá enfrentar os problemas da modernidade: desemprego, baixa renda, pobreza, terrorismo internacional, desequilíbrio ecológico. Tudo isso demandará um esforço muito mais amplo e menos custoso do que aquele de hospedar a Copa e as Olimpíadas. Estas últimas precisam de obras, que serão responsabilidade dos governos. Mas a RIO +20 requer apenas um amplo debate entre os brasileiros, que deve ocupar faculdades, escolas, sindicatos, e especialmente, o Congresso.
Cristovam Buarque é senador da República