De O Globo: O ex-diretor do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil Celso Ferro assumiu a autoria de um relatório sobre operações sigilosas do Ministério Público do Distrito Federal endereçadas ao governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM).
Em depoimento a um grupo de promotores em 25 de fevereiro, disse que fez e encaminhou o documento a Arruda por intermédio de Domingos Lamóglia, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Distrito Federal apontado como um dos principais integrantes da organização supostamente chefiada pelo governador. Ferro foi interrogado no procedimento aberto para apurar suposta espionagem de setores da Polícia Civil sobre o Ministério Público. A investigação foi aberta por determinação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. “Que com relação ao documento encontrado na residência de Domingos Lamóglia, por ocasião das apreensões da Operação Caixa de Pandora, intitulado Anotações Pertinentes, esclarece que foi o declarante quem elaborou o referido documento”, diz Ferro conforme cópia do depoimento obtida pelo GLOBO.
O delegado disse ainda que fez mais “dois ou três” relatórios para o governador. O delegado negou, no entanto, que tenha espionado os promotores encarregados das investigações mais comprometedoras contra auxiliares de Arruda. – Ele (Arruda) queria saber o que, atualmente, comprometia o governo e eu fiz o documento. Mas tudo aquilo lá ele já sabia. Eu já tinha informado ele desde o início do governo, quando eu ainda estava na polícia. Eu era o chefe das investigações e avisei a ele e ao Paulo Octávio (ex-vice-governador). Era minha obrigação, era uma questão de hierarquia. Em todos os governos é assim. A polícia avisa o governador — disse o delegado numa entrevista ao GLOBO.
Depois de 30 anos de profissão, Celso Ferro se aposentou em março do ano passado e, desde então, abriu uma empresa de consultoria em inteligência. Ele nega, no entanto, que tenha um contrato de consultoria com Arruda. O delegado e o governador chegaram a abrir negociações, mas não chegaram a um acordo. Arruda teria se recusado a pagar o preço cobrado pelo delegado. Segundo ele, Arruda queria informações para se proteger na campanha a reeleição e vigiar os adversários. “Que o declarante informa que sua atividade era, em suma, de consultoria, auxiliar o governador Arruda na reeleição, informá-lo sobre fatos que poderiam comprometer sua imagem em vista da reeleição, bem como informá-lo sobre os passos de seus prováveis opositores políticos à reeleição em 2010″, disse Ferro aos promotores Clayton da Silva Germano, Áurea Regina, Wilton Queiroz.
Na mesma investigação, os promotores interrogaram os delegados Cícero Jairo e Marco Aurélio, citados por Ferro no relatório sobre as operações sigilosas.