Deu em O Globo
Comediante não perde o humor nem ao protestar
Foto: Domingos Peixoto
Ato contra censura durante período eleitoral arranca risadas do público em passeata na Avenida Atlântica
Chico Otávio
Era para ser um ato de protesto indignado. A seriedade, porém, não durou mais do que sete minutos, tempo suficiente para que os comediantes ouvissem quietos — atendendo a um veemente “xiii, silêncio!” — a leitura do manifesto contra a proibição imposta ao humor no período eleitoral.
Em seguida, um dos líderes do movimento, Fábio Porchat, do grupo Comédia em Pé, pegou o megafone e puxou as primeiras “palavras de ordem”:
— Um, dois, três… Quatro, cinco, seis… Sete, oito, nove… Dez, onze, doze…
Comediante jamais perde a piada, mesmo quando se sente acuado. Enquanto caminhavam ontem pela Avenida Atlântica, do Hotel Copacabana Palace ao Leme, no protesto batizado de Humor Sem Censura, e que reuniu cerca de 500 pessoas, Marcelo Madureira, Sabrina Sato, Bruno Mazzeo, Hélio de la Peña, Marcius Melhem e outros “manifestantes” fizeram um show de improvisação para pedir o fim do que classificam de censura da Justiça Eleitoral ao humor político.
— Humorista unido, jamais será comido — bradaram os comediantes, seguidos por uma legião de tietes que disparavam fotografias.
A manifestação, durante a qual foi lançado um abaixo-assinado, exigia a revogação de uma norma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe, desde 1997, a veiculação, por rádio ou TV, de entrevistas ou montagens que “degradem ou ridicularizem” candidatos, partidos políticos ou coligações:
— Se é assim, a Justiça tem de proibir também o maior programa de comédia em exibição no Brasil, que é o horário eleitoral gratuito. É tudo muito engraçado. Se eles têm direito de fazer o seu humor, por que não podemos fazer o nosso também? — indagou um inconformado Sérgio Mallandro.
Alguns metros de caminhada à frente, alguém denunciou:
— Iu, iu, iu… Tiririca nos traiu!
A frase, repetida em coro, denunciava que Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo, havia “traído a classe” ao se debandar para o outro lado. A certa altura, a ausência de repressão foi notada:
— Cadê a polícia?
Em uníssono, os manifestantes passaram a cobrar: “Queremos apanhar.”
Depois, imitaram o grito das torcidas de futebol, recheado por um sonoro palavrão, para expulsar da passeata cabos eleitorais que insistiam em infiltrar bandeiras de partidos políticos.
Naquele momento, o ato se aproximava da Avenida Princesa Isabel, inspirando Marcelo Madureira, da turma do Casseta, a fazer um convite coletivo:
— Vamos à Cicciolina? — referindo-se ao inferninho perto dali.
O ato terminou em pizza na Fiorentina, tradicional restaurante do Leme, mas Fábio Porchat está convencido de que a iniciativa vai render frutos.
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