Lilian Tahan/Correio Braziliense
José Luiz Valente: “É absolutamente inverídico que tenha participado de qualquer reunião em horário de expediente” |
José Luiz Valente é um dos protagonistas nessa queda de braço. Ex-secretário de Educação durante o governo de José Roberto Arruda, ele deixou oficialmente a liderança da rede pública em novembro do ano passado, no dia em que estourou a Operação Caixa de Pandora. Valente foi um dos alvos de busca e apreensão da Polícia Federal e pediu afastamento no mesmo dia da ação policial. É um dos investigados no esquema de corrupção descoberto pelo Ministério Público em parceria com a PF. Não só nega as acusações, como se inscreveu para concorrer a deputado distrital e, apesar do desgaste provocado pelo escândalo, trabalha com meta ousada para outubro.
O Correio teve acesso a e-mails trocados por Valente em que o ex-secretário expõe suas pretensões políticas com base na influência sobre a rede de ensino. Numa das mensagens enviadas a colaboradores de sua campanha (todos eles empregados na Secretaria de Educação), Valente apresenta uma planilha com a seguinte explicação: “Esta é a projeção de votos por regional, considerando uma proporcionalidade em relação aos alunos matriculados em cada uma. Vocês acham esta lógica viável do ponto de vista da experiência eleitoral????. Abs. Valente”.
Na tabela remetida por Valente a diretores e professores, o ex-secretário mapeia as 14 regionais de ensino da rede pública. Para cada uma, calcula o índice de eleitores que espera ter para atingir 25 mil votos, margem que o colocaria entre os 24 distritais eleitos. Com base no número total de alunos matriculados — 501.252, segundo o censo escolar de 2008 —, Valente faz as contas de quantos apoiadores precisa fazer em cada regional. Em Ceilândia, traça sua meta mais ousada: 17,81%, o que significa 4.452 votos. Depois vem Taguatinga, onde tem a intenção de atingir 9,51%, ou 2.377 eleitores. Ele faz o mesmo exercício para Plano Piloto, Planaltina, Samambaia, Gama, até atingir marca de colaboradores que considera confortável para garantir a eleição.
Exoneração
Esse e-mail de Valente foi enviado em 13 de julho deste ano, seis meses depois de seu afastamento do GDF, evidência de que, apesar de ele ter deixado a secretaria no ano passado, ainda conta com o apoio de correligionários na rede. Colaboração que incomoda o atual comando da Secretaria de Educação. Em 27 de julho, o secretário Marcelo Aguiar exonerou nove diretores de regionais. A justificativa oficial foi a de que o GDF precisava arejar a área de educação.
Mas os servidores demitidos atribuem o afastamento à ligação estreita com José Valente. “Ele fez um bom trabalho e vários diretores de regionais realmente o apoiam. Depois de eu ser exonerada, o secretário me ligou para dizer que se tratava de uma medida administrativa com objetivo de oxigenar a Secretaria. Mas nas escolas corre um boato de denúncias sobre o uso da máquina para fazer campanha política a favor do Valente. Pelo menos na minha regional, isso não é verdade. Nunca usei o horário de expediente para promover o candidato”, diz Ana de Fátima Dias Henrique, ex-diretora da regional de Ceilândia, que agrega maior quantidade de escolas sob sua gerência. Um total de 88 instituições com 89 mil alunos matriculados.
A despeito de querer mudar os ares no comando da rede educacional, o governo se amparou no volume de denúncias feitas por professores que reclamaram da pressão política por parte de alguns diretores que agiam supostamente em nome de Valente para promover as exonerações. Entre os relatos recebidos pela Secretaria de Educação há casos de diretores regionais que teriam convocado professores e diretores de escolas em Samambaia, Recanto das Emas e Brazlândia para reuniões políticas.