Do Correio Braziliense: Um dos trechos do depoimento do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa que causou repercussão na Câmara Legislativa partiu da própria deputada Érika Kokay (PT), relatora do processo por quebra de decoro contra a distrital Eurides Brito (PMDB), acusada de receber mesada para apoiar o governo. A petista contou a Durval que ouviu da peemedebista, ex-líder do governo Arruda, o relato de que vários governistas exigiam propina para aprovar projetos na Casa.
A conversa entre as duas teria ocorrido em maio do ano passado, na festa de aniversário do deputado Cristiano Araújo (PTB), dias antes da votação do projeto que criou o plano de saúde dos servidores do Governo do Distrito Federal.
Cristiano comemorou 26 anos em 11 de maio, uma segunda-feira, com um jantar em sua casa no Lago Sul no fim de semana anterior. Érika disse a Durval, segundo registro das notas taquigráficas da Casa, que Eurides lhe apontou na festa vários deputados que receberiam pagamento em troca de voto favorável à aprovação do projeto. Na terça-feira seguinte, como teria antecipado Eurides, 23 deputados votaram a favor da proposta que havia despertado um longo debate com técnicos do governo.
Na sessão, a Câmara aprovou o projeto em dois turnos e com redação final. Em entrevista ao Correio, Érika confirmou ontem que ouviu a história de Eurides.
O trecho em que petista descreve a suposta conversa com a peemedebista foi suprimido das notas taquigráficas depois da revisão da petista. Na primeira versão, Érika contou que Eurides apontou vários deputados presentes na festa como beneficiários da suposta propina (veja aqui). E citou os deputados Geraldo Naves (sem partido) e Rogério Ulysses (PSB).
Ontem, Érika Kokay explicou que retirou o trecho do documento porque não tinha certeza de datas e dos nomes de todos os governistas apontados por Eurides. “Só posso confirmar que ela me disse que havia propina para aprovar o projeto. E me surpreende a tranquilidade com que a deputada Eurides foge da verdade”, afirmou Érika Kokay.
As últimas denúncias feitas por Durval Barbosa na Comissão de Ética da Casa, na semana passada surtiram efeito explosivo ontem no plenário da Câmara Legislativa. O clima exaltado entre os parlamentares impediu qualquer tipo de votação, inclusive a da indicação do procurador Inácio Magalhães para a vaga do Tribunal de Contas do DF. Eurides e Naves chamaram Érika de “mentirosa”. Eles negaram as acusações de recebimento de propina feitas por Durval, criticaram o vazamento do conteúdo do relato para a imprensa e colocaram em xeque a maneira com que a petista conduz a investigação.
Bate e rebate
Eurides desqualificou as informações prestadas por Durval. Ela disse que está analisando e destacando as “incongruências, inverdades e coisas absurdas” ditas pelo ex-secretário. “Vou me manifestar no tempo oportuno. Ninguém vai fazer relatório antecipado”, ameaçou. A distrital afirmou já ter encontrado “quatro assuntos” descontextualizados no relato. Entre eles, está a parte que teria contado para Érika, durante uma festa, quais eram os deputados que recebiam propina.
“Nunca tive essa conversa. Tenho muito cuidado com quem converso”, alfinetou. Em outro momento, Eurides desafiou a deputada petista. “Se eu disse isso mesmo, ela foi conivente e faltou com a ética”, afirmou.
Naves subiu à tribuna para criticar a forma com que Érika colheu o depoimento de Durval. “Você é uma mentirosa”, acusou. Ele disse que a relatora não foi colher o depoimento e, sim, fazer um próprio relato. “Tenho certeza de que Eurides não falou para a senhora que tinha gente (deputados) recebendo propina”, afirmou. Érika insistiu na veracidade da conversa com Eurides.