Nesta quarta-feira (3), o Banco Central (BC) indeferiu o perímetro de compra do Banco Master pelo estatal Banco de Brasília (BRB), segundo apurou a Folha com pessoas próximas à operação. As partes já foram notificadas
A decisão da diretoria do BC ocorre um dia após o centrão lançar uma ofensiva no Congresso para tentar aprovar um projeto de lei que dá poderes a deputados e senadores para demitirem diretores e até o presidente do BC.
Integrantes do governo Lula enxergaram no movimento político uma pressão para aprovação do negócio. Final de contas, acordo previa que o BRB comprasse R$ 23 bilhões em ativos do Master, que ficaria com cerca R$ 48 bilhões restantes.
Em Brasília, nos bastidores corre a informação que a compra do Master pelo BRB, renderia uma grande “ajuda” a um grupo político que teria recursos de sobra para as eleições de 2026.
O Master aparece na Operação Carbono Oculto, deflagrada na última quinta-feira (28) pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal. A investigação revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro vinculado ao PCC, além de fraudes, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis.
O banco é inclusive alvo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e é acusado de aplicar golpes em aposentados e pensionistas.
Em depoimento nesta terça-feira (2), o advogado Eli Cohen — responsável por identificar um dos maiores esquemas de fraude no consignado do país — detalhou como o banco e outras instituições lesavam clientes com contratos falsos, reaproveitamento de documentos sem autorização e depósitos de valores inferiores aos contratados.
Durante a oitiva, a senadora Leila Barros (PDT-DF) destacou a gravidade das denúncias diante a tentativa de compra do Master pelo BRB, justamente para ampliar sua carteira de consignados.
Para ela, é inaceitável que um banco público do Distrito Federal esteja prestes a assumir uma instituição envolvida em suspeitas tão sérias.
“Estamos falando de práticas que lesam diretamente os brasilienses, os servidores do GDF e os aposentados, a camada mais vulnerável da sociedade. É preciso esclarecer os riscos antes de avançar em qualquer negociação”, afirmou a senadora, alertando preocupação com os impactos da operação para o patrimônio público do DF.
O Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) iniciaram uma investigação contra o Banco Master para apurar possíveis fraudes na concessão de empréstimos consignados e descontos não autorizados em benefícios previdenciários. A apuração, que teve início em 4 de agosto de 2025, na Procuradoria da República no Distrito Federal, está em fase de procedimento preparatório, etapa preliminar a um inquérito civil. O objetivo é esclarecer denúncias de irregularidades, como a concessão de créditos sem autorização e práticas que podem violar direitos de aposentados e servidores.
A investigação foi motivada por reclamações e indícios de operações fora do padrão de mercado, com destaque para o aumento expressivo de contratos do banco.