Demorou, mas aconteceu. Às vésperas de completar 80 anos, quando Silvio Santos menos esperava, o “rapa” pegou o bilionário que começou a vida como camelô. Desta vez, porém, não eram os temíveis fiscais municipais que levam as bugigangas dos marreteiros e tudo que encontram pela frente. Eram os homens do Banco Central.
Em lugar da banquinha, o alvo da fiscalização agora era o dono do Banco PanAmericano, que deixou um rombo de 2,5 bilhões de reais, comandante de uma rede de televisão e de um império com mais de 40 empresas. Para quem transformou em ouro tudo por onde passou, o destino foi cruel. De uma hora para outra, Silvio pode perder a fortuna que camelou para ganhar a vida inteira, dando risada e oferecendo dinheiro fácil aos outros.
A seu favor, só o fato de ter empenhado todo seu patrimônio para cobrir o prejuízo, algo pouco comum num país onde as empresas podem falir mas os donos continuam ricos. Silvio sempre se orgulhou de ser respeitado no mercado por cumprir seus compromissos e carregava com ele na pasta suas declarações de imposto de renda para provar que era o maior pagador do país como pessoa física.
Mais do que a ruína financeira no ocaso da vida, as lambanças na administração do banco e na fiscalização federal responsável sobre o que acontecia lá dentro, o que me impressiona mais nesta história é o drama familiar daí decorrente, uma vez que que o pivô do escândalo financeiro é um primeiro irmão de sua mulher, Rafael Palladino, que era tratado como um filho e é ex-presidente do PanAmericano, colocando agora em risco a herança das cinco filhas do casal Senor e Íris Abravanel. Não há mais clima para a festa do aniversário de 80 anos.
Talvez nem mesmo o enredo inverossímel das lacrimosas novelas mexicanas que a rede de TV do megaempresário gosta de exibir fosse capaz de juntar tantos ingredientes dramáticos e personagens improváveis na mesma história.
Como será que vai acabar esta novela?
Ricardo Kotscho