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    ADMINISTRAÇÕES REGIONAIS E A INSATISFAÇÃO DA POPULAÇÃO

    Em seis cidades, administradores lidam com a insatisfação da população

     

    Mara Puljiz

    Saulo Araújo/Correio Braziliense

    Cerca de 300 pessoas se reuniram ontem em frente ao prédio da Administração do Núcleo Bandeirante para protestar contra o novo gestor (Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press)  
    Cerca de 300 pessoas se reuniram ontem em frente ao prédio da Administração do Núcleo Bandeirante para protestar contra o novo gestor

    A nomeação de seis administradores regionais tem provocado insatisfação entre alguns moradores das respectivas cidades. Desde que o governador, Agnelo Queiroz (PT), oficializou os nomes, integrantes de associações comunitárias vem organizando manifestações com direito a carros de som e orações. Há ainda quem promete fazer greve de fome como forma de pressionar o GDF a escolher outros nomes para assumir o comando das regiões administrativas. Até agora, as reclamações estão focadas em Taguatinga, no Núcleo Bandeirante, na Estrutural, em São Sebastião, no Varjão e em Santa Maria.

    Entre os motivos da rejeição, está o fato de nenhum dos novos administradores morar na cidade, compromisso firmado por Agnelo durante campanha eleitoral. Em alguns casos, a reclamação se dá em virtude do novo gestor ter sido indicado por algum deputado distrital. Essa foi a motivação que mobilizou ontem alguns moradores de São Sebastião. Na cidade, a policial civil Janine Barbosa foi escolhida pelo governador por indicação do deputado distrital Agaciel Maia (PTC), que, em 2009, foi afastado da diretoria-geral do Senado Federal após ter o nome envolvido em denúncias sobre a evolução patrimonial e nos escândalos dos atos secretos da Casa.

    Ontem, por volta das 12h, 30 pessoas fizeram um protesto em frente à administração da cidade. Vestidos de preto, os manifestantes confeccionaram cruzes, usaram nariz de palhaço e estenderam faixas. “Ninguém conhece essa administradora. Ela tomou posse pelos fundos e sem a anuência do povo. Isso representa a morte da democracia. Não somos contra o Agnelo, mas contra a indicação de Agaciel Maia”, afirma Gilberto Pereira, presidente da Associação de Controle Social do Orçamento e Finanças de São Sebastião (Ascontas).

    A administradora Janine Barbosa se defendeu dizendo que tem total condições de gerir a cidade, mas entende que as insatisfações fazem parte do processo democrático. Da mesma forma, ela disse ter recebido manifestações de apoio de lideranças da comunidade. Para demonstrar a capacidade para ocupar o cargo, Janine ressaltou que já foi administradora do Itapoã durante um ano, de 2005 a 2006, e destacou que nos últimos quatro anos trabalhou na Secretaria de Segurança Pública. Sobre as críticas a Agaciel Maia, a administradora defendeu o padrinho. “O meu histórico de vida foi o que me colocou aqui e permitiu essa indicação. Não há nenhuma condenação contra ele (Agaciel). Condená-lo antecipadamente seria ferir o princípio constitucional da ampla defesa”, diz.

    Importado
    No Núcleo Bandeirante, cerca de 300 pessoas se reuniram ontem pela manhã em um salão ao lado da Paróquia João Bosco, na Praça Padre Roque. Por volta das 11h, o grupo foi até a entrada da administração regional para pedir a saída de Bruno Bierrenbach Bonetti. O publicitário e comerciante veio do Rio de Janeiro para assumir a função de gestor da cidade. “Tenho certeza que posso fazer uma boa administração porque tenho sensibilidade para ouvir o povo”, ressaltou ao Correio, após ser recebido com gritos de “fora” na porta do prédio. Entre os manifestantes estava o ex-administrador do Núcleo Bandeirante, Lino Neto. “Não temos nada contra ele, mas não queremos estranhos na nossa cidade”, disse. “Vou fazer greve de fome se for preciso”, prometeu a coordenadora da pastoral da paróquia, Maria Figueiredo. Para pedir a saída de Bruno e para abençoar os políticos, a aposentada Maria de Lourdes da Silva, 69 anos, acendeu velas e rezou.

    A secretária de Comunicação Social do GDF, Samanta Sallum, destacou que a composição do governo atendeu a critérios técnicos. “O governo entende que qualquer manifestação faz parte da democracia e respeita a opinião desses moradores. São manifestações pontuais orquestradas por alguns grupos políticos que não se sentiram representados com as indicações. Isso é normal e será encarado com naturalidade”, afirma Samanta. 

    Contrariados protestam
    Taguatinga
    No último dia 30, o protesto aconteceu em Taguatinga. Membros de igrejas, donos de bares e restaurantes, líderes comunitários e comerciantes se reuniram contra a nomeação do pastor Daniel Castro (foto)para o cargo de administrador. Conhecido também por Daniel Tatico, ele trabalhou como coordenador do núcleo evangélico na campanha de Agnelo ao GDF e foi sub-chefe de gabinete do deputado distrital Benedito Domingos (PP) e secretário da Administração de Águas Lindas, em 2005. “Além de não ser da cidade, cadê a mudança que Agnelo prometeu? O Daniel era chefe do Benedito Domingos e nós nunca podemos contar com a participação deles nas reuniões dos conselhos comunitários porque são pastores e nunca tem tempo para a comunidade”, reclama Marta Lima, líder comunitária da QSB e CSB de Taguatinga. A reportagem do Correio tentou, sem sucesso, contato com o novo administrador.

    Santa Maria
    Em Santa Maria, um grupo de moradores também decidiu manifestar insatisfação com a nomeação feita pelo governador. Agnelo Queiroz deu o comando da cidade ao empresário Márcio Gonçalves Ferreira. O presidente da Associação de Produtores e Criadores Rurais de Santa Maria, Raimundo Rocha, lidera um movimento contra a indicação. “Ele não representa a vontade do povo e não houve reunião com as associações. Além disso, esse sujeito nunca fez nada pela cidade”, protesta Raimundo. Ele promete que, caso o governador não volte atrás da decisão, haverá manifestações com o fechamento de pistas e queima de pneus. “Vamos esperar que o novo governo tenha bom senso. Se ele permanecer, vamos para as ruas, fechar as rodovias e os acessos da cidade. Não vamos aceitar essa imposição”, ameaça.

    Outro fato que na opinião de Raimundo justifica a rejeição de Márcio é que ele teria sido condenado, em 1998, por tentar extorquir a então prefeita de Cabeceiras (GO). “ Não importa se o processo é antigo ou não. No meu entendimento, ficha-limpa é desde o momento que você nasce até morrer. Se ele cometeu algum deslize, já perdeu a credibilidade”, afirma. Por sua vez, o administrador Márcio Gonçalves mostrou-se surpreso com a rejeição, mas garantiu estar com a consciência limpa de que a maioria das entidades apoia seu nome para comandar Santa Maria. “Se você fizer uma pesquisa, a maioria dos moradores me apoia. Ninguém consegue agradar todo mundo e comigo não será diferente. Vamos mostrar que somos capazes de trabalhar. Já começamos a mostrar isso com uma grande limpeza na cidade e vamos fazer muito mais”, garante o administrador.
    Em relação à denúncia de extorsão, Márcio diz que caiu numa “armação” e que a Justiça goiana já inocentou. “O inquérito já foi julgado improcedente. Nunca fui condenado. Estão tentando destruir minha imagem resgatando coisas do passado que a própria Justiça interpretou como inverdades. Estou bastante tranquilo quanto a isso e vou responder com trabalho”, afirmou.

    Varjão
    No Varjão, a indicação de José Maria Martins dos Santos também incomodou. Por meio de uma carta, a Associação de Moradores do Varjão (Asmov) ameaça boicotar a administração do novo comandante da cidade. “A indicação dele indignou os moradores do Varjão que prometem manifestações para os próximos dias. José Maria é considerado ficha-suja, apesar da postura de representante do povo”, diz a nota. A reportagem do Correio tentou contato com José Maria, mas ele não foi encontrado para se defender das acusações.

    Estrutural
    Na Estrutural, alguns líderes comunitários manifestaram contrariedade à indicação da professora Maria do Socorro Torquato Fagundes para a administração da cidade. Socorro é mulher do presidente regional do PT-DF, Roberto Policarpo.

    Pressão deu certo no Park Way
    » No Park Way, os moradores conseguiram com que Agnelo Queiroz desistisse de confiar a gestão da cidade ao empresário Antônio Girotto, que não mora na região. Antes da oficialização do governador dos nomes dos administradores, ele era apontado como um forte candidato para abocanhar a vaga. Girotto ocupou o cargo no governo de José Roberto Arruda. Diante dos protestos, o petista recuou e o cargo, ficou com o colega de partido José Benevonuto Estrela.

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