*Horácio Lessa
A lua de mel do governo Lula III acabou. A verdadeira quarta-feira de cinzas no Brasil em 2023 será agora, a partir de 27 de fevereiro. De agora em diante que Congresso, STF, TCU, Ministros, todos em Brasília se encontram devidamente acomodados, quem é da cidade (Brasília) ou acompanha a política brasileira sabe que o ano só começa na segunda-feira pós-carnaval, acredito que só acontece isso em Brasília e Salvador/BA, mas lá é carnaval o ano inteiro.
Quando falamos do fim da lua de mel do governo Lula é porque não dá mais para os improvisos e colocar culpa nos atos de vandalismos que ocorreram no infeliz dia 8 de janeiro. Os partidos já estão todos organizados tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados, um ou outro em desarranjo, mas oposição e centrão já estão a postos, todos devidamente preparados e posicionados, a base raiz do presidente Lula, os neo-lulistas cooptados pelo fisiologismo de cargos e verbas, tudo começa a funcionar, como uma orquestra agora os ensaios acabaram e começou o concerto.
Com esse cenário de normalidade institucional, Lula passará a ser cobrado pelo o que prometeu na campanha e principalmente pelo que prometeu depois dela, como será o convívio de PSOL, PT e Rede com União, PP e MDB (o eterno partido do golpe)? Sairá muitas faíscas? Muitos desses parlamentares que agora passaram a defender o governo, meses atrás se atacavam em plenário.
E a oposição? Como e quem será? Vejo 2 centros de oposição ao governo Lula, um grupo muito barulhento, não organizado e não muito numeroso, que serão os deputados eleitos na base ideológica do ex-presidente Jair Bolsonaro. Destacaria dentre eles, o Deputado mais votado do Brasil Nikolas Ferreira de Minas Gerais e André Fernandes do Ceará, para discussões mais técnicas e aprofundadas destacaria o deputado Luiz Philippe de Orleans (PL/SP), sem esquecer é claro da deputada Bia Kicis (PL/DF) e dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O outro grupo organizado de oposição com um enfrentamento mais duro, inclusive, porém menos midiático, se dará por parte de deputados mais experientes quando o assunto é os governos do PT, podemos destacar os deputados Carlos Sampaio (PSDB/SP) e Mendonça Filho (União/PE), ambos com larga experiência e história de enfrentamento com o PT.
Com a vitória de Lula houve um estado de euforia por diversos setores da sociedade, mídia, grupos da sociedade civil, chefes de estados de diversos países, parte do mercado e é claro os parlamentares, mas a realidade de um país complexo e cheio de problemas socioeconômicos como o Brasil, em algum momento ia chegar, daí a ideia de que essa lua de mel, ou trégua generalizada que foi dada ao presidente Lula para dizer e fazer o que bem quis nesse começo de governo chegou ao fim e as cobranças agora vão começar, principalmente da base fisiológica construída pós eleição pelo PT para ter governabilidade.
O mercado foi o primeiro a dar sinais que não vem concordando com uma série de questões e falas do presidente Lula e de parte do seu governo, principalmente do Ministro da Fazenda Fernando Haddad. O Mercado é sempre acusado de ser muito sensível e um agente que só se interessa em enriquecer, principalmente por parte esquerda brasileira e parte da mídia, sabemos que não é verdade, inclusive nos governos anteriores do PT “o mercado” nunca ganhou tanto dinheiro.
Com tudo isso, o pós carnaval aponta para a necessidade urgente de o PT, o Presidente Lula e seu governo mostrarem a que vieram e os rumos que o país irá tomar, também se aproxima dos famosos 100 primeiros dias de governo, como se trata de um governo de uma figura completamente conhecida da política brasileira, estamos falando do Governo Lula III, todos esses setores que fizeram vistas grossas durante a eleição para diversas políticas que o presidente Lula e o PT diziam que iriam fazer, mas defendia que era tudo em nome da democracia e que lá na frente isso não se tornariam realidades, hoje se deparam com mensagens muito convincentes de que de fato o governo Lula III realmente está dispostos a cumprir o que prometeu em campanha.
Diante desse cenário de incertezas que nos acompanham, a única coisa que podemos afirmar é que realmente entre a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa o governo já terá que ter dito ao que veio de verdade, pois se não, muitos desses setores que apoiaram o governo e fizeram campanha abertamente começarão o feriado de Tiradentes em clima de impeachment, apesar de todos negarem, os rumores nos corredores do congresso é sempre existente, o processo democrático e legal, por mais que o PT negue, pelo qual passou a ex-presidente Dilma serviu de exemplo, se um presidente está em desacordo com a sociedade e congresso, facilmente se resolve isso com um impeachment.
Vamos todos torcer para que o Brasil não recorra novamente a esse mecanismo constitucional e legal para resolver um problema 100% político, pois basta o presidente e seus ministros entenderem que estarão cometendo o mesmo erro de Dilma e Bolsonaro se focarem em governar para a parte que lhes elegeram. Lula vem de um cenário ainda pior, pois uma boa parte do país não votou nele. O Brasil precisa apontar para um rumo claro de responsabilidade fiscal, crescimento econômico, resolver os graves problemas de educação, saúde e infraestrutura, somos um país continental, cheio de mazelas e problemas sociais, é sensato que o governo gaste energia para resolvê-los, assim esperamos, apesar dos sinais trocados até o momento.
*Horácio Lessa Ramalho é cientista político com MBA em relações governamentais pela FGV.